sábado, 23 de outubro de 2010

CAFÉ NO PAÇO REAL RESTAURANTE E CAFÉ

Foto: Aline Marques
Poesia: arte de dizer o óbvio maquiado, de embelezar o dito.
Manoel Bandeira foi tema do final da tarde de 23 de outubro.
O grupo aconchegado nas macias poltronas do Real Restaurante, na Ilha do Leite, saboreando uma pizza quente, trouxe Manoel Bandeira pra roda. Saboreando petiscos simbolistas, ora em recitações, ora em análise, ora em crítica, ora em observações.
As blogueiras viram passar, mas horas coloridas de mais um encontro regado a café.

Próximo encontro: 06/11
Tema: Literatura
Obra: O diário roubado
Indicação: Bárbara

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Renúncia


Chora de manso e no íntimo... Procura
Curtir sem queixa o mal que te crucia:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura. [...]

Versos escritos em 1906, mas que são tão atuais.
A magia da poesia está aí... nos encontrarmos com o passado por sentimentos atemporais!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

[...]

Epígrafe
1917


Sou bem-nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.

(...)

Ardeu em gritos dementes
Na sua paixão sombria...
E dessas horas ardentes
Ficou esta cinza fria.

- Esta pouca cinza fria...



Trecho do livro 'A cinza das horas',
de Manuel Bandeira.
Próxima discussão do Café com Leitura.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sou menino? Sou menina? Sou 'o quê'?!



Segundo sr. Aurélio (2008):

Homossexual: que sente atração por ou tem relações sexuais com indivíduos do mesmo sexo.
Heterossexual: que sente atração por ou mantém relações sexuais com pessoa do sexo oposto.
Transexual: que deseja adquirir ou já adquiriu por meio de cirurgia as características sexuais do sexo oposto.

Caso você não tenha se identificado, fique calmo. Há conceitos e nomenclaturas para todos. Também há ONG´s e diversos ativistas em movimentos trabalhando o ano inteiro em prol da liberdade sexual. Entretanto, ainda há aqueles que insistem em fingir que essa diversidade não existe.
A psicóloga Márcia Arán faz uma retrospectiva histórica de como ocorreu esse processo de mudança na identidade sexual, do ponto de vista psicanalítico, e esclarece-nos sobre questões a respeito dos conceitos que eu citei inicialmente.
Chamou minha atenção a enorme influência da cultura em nossa identidade sexual. Não é à toa que ao perceber-se com um ‘gosto sexual’ diferente dos demais a primeira providência tomada é convencer a si mesmo a redefinir a questão do ‘certo’ ou ‘errado’ para sentir-se ‘incluído’. Fui clara?! Penso que sim.
Arán nos mostra que o gênero pode vir definido no nascimento, a identidade não. E, no entanto, somos moldados o tempo inteiro, desde a cor das nossas roupas, nossos brinquedos, decoração do quarto do bebê, até a ideia fixa de que existe um padrão de identidade sexual definido e arderá no fogo do inferno aquele que não segui-lo.
Analisando o processo de mudança quebramos conceitos, ampliamos nosso horizonte para a questão e percebemos que rotular só vai nos levar a segregação. Basta entender as possibilidades e viver e deixar os outros viverem da melhor maneira possível.

"...Acho que ser ou não se ser viado tá ultrapassado e não me leve a mal..." (Montenegro)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

LIBERDADE É VIVER A VERDADE

Márcia Arán, um nome pra se anotar. A psicóloga e professora é danada. E não é que conseguiu me fazer ficar vidrada no monitor sobre um assunto que não tenho muita propriedade pra falar? Bem... o fato é que a didática da professora é incrível e quem viu o vídeo sabe, ela foi coesa e pragmática. Conseguiu apimentar a teoria, tornando-a digestiva.

Sexualidade contemporânea e novas formas de subjetivação. É esse o tema que a professora se propôs a tratar.

Pra Arán, alguns teóricos elencam alguns efeitos colaterais relacionados à questão da sexualidade como: o apagamento da diferença sexual; a crise do simbólico; e as mudanças da sexualidade como causadores da estruturação da sociedade. No que a professora discorda afirmando que deve-se manter os conceitos de diferenças e pensar os laços sociais entre homossexuais/transexuais/transgêneros, apenas deslocando a noção de diferença da maneira clássica de se pensar o masculino e o feminino.

A proposta de Arán foi tratar de três questões na palestra: 1) Deslocamento do feminino (mudança de lugar da mulher na sociedade); 2) Casamento homossexual; 3) Transgenerismo e transexualidade (construção de si com modificações corporais).

Engraçado é perceber o preconceito tão vivo e real dentro de cada um de nós. E o nome já diz pré-conceito, conceito pré definido, estabelecido. Conceitos elaborados com bases não sólidas, empíricas, concebidas a partir de valores e crenças estritamente pessoais, que embaçam o pensamento lógico e a definição clara e mais próxima do real.

Me chamou a atenção as colocações feitas acerca do casamento homossexual, onde a professora coloca claramente as teorias assustadoras colocadas por alguns teóricos e psicanalistas sobre o assunto, alegando-se que poderia haver, perigo da crise da família; que as referências identitárias masculinas e femininas se apagariam; haveria degeneração da cultura. E a professora desconstrói essas colocações e baseada em pesquisas científicas, afirma que não existe nenhuma diferença na forma como as crianças são criadas, não sendo assim a opção sexual dos pais, importante nesse processo.

Outra questão instigante foi sobre um universo desconhecidíssimo pra mim, sobre os transgêneros, travestis e transexuais. Fui logo ao dicionário e ao Google tentar entender melhor:

• Transexualidade: identidade de gênero diferente do corpo biológico. Desejo de viver e ser aceito como sendo do sexo oposto. Vontade de efetuar a modificação corporal via transição do sexo corporal.
• Transgenerismo: expressão de gênero não corresponde ao papel social e ao gênero do nascimento. Estão em trânsito entre um sexo e outro.
• Travestismo: Ato de travestir-se com roupas do sexo oposto.
- Drag Queen: fantasia-se cômica e exageradamente com o intuito geralmente profissional.
- Transformista: veste roupas usualmente próprias do sexo oposto com intuitos essencialmente artísticos comerciais. Não necessariamente isso interfere na sua orientação sexual.

E sobre o assunto a professora esclareceu, não há existe nenhuma fundamentação psicopatológica pra justificar que a condição ainda esteja incluída no CID 10 como Transtorno de Identidade de gênero, que se refere a incoerência entre sexo e gênero.
A professora então cita Foucoult que diz que o sexo é um sistema de poder e fazer e o gênero é algo que se constrói na tragetória, é o efeito das repetições da criação.

Muito boa pedida, muito bom abrir a mente, muito bom pensar no assunto, descortinar as idéias preconceituosas e consequentemente se alimentar de esclarecimento, de ciência, de verdades que são distantes demais, quando não há a disposição de enxergá-las e tentar se apoderar do saber.

Viva a liberdade de ser!

Viva a diversidade!

Viva o respeito!

Viva o amor!

domingo, 10 de outubro de 2010

CAFÉ NO ROUGE

Com que óculos vemos as pessoas? Elas necessariamente sentem-se como as enxergamos? Estamos falando aqui de gênero e sexualidade. De homens que são mulheres e mulheres que são homens porque assim se sentem. É. Realmente é estranho falar assim. Mas o estranhamento ocorre porque enxergamos esse cenário com os óculos da heterossexualidade. Curioso o tema, não é? Pois foi ele que fez de três horas parecerem uns vinte minutos no último encontro do Café com Leitura, que aconteceu no Rouge, em Casa Forte, no último sábado, dia 09.

Foi um encontro especial. Todas estavam presentes.

Discutiram sobre a palestra da psicanalista Márcia Arán, que tratou acerca das novas formas de sexualidade. A especialista provoca uma revisão de conceitos em nós quando discutiu e afirmou que precisamos enxergar a transsexualidade, o transgênero e a homossexualidade sob uma ótica diferente daquele modelo heterossexista, no qual fomos criados pelos nossos pais e eles pelos pais deles e assim sucessivamente. A discussão tratou ainda sobre outros pequenos temas, mas não menos importantes: o casamento homossexual e a criação de filhos por casais do mesmo sexo. Em breve, nossas opiniões sobre o assunto. Se a curiosidade lhe assaltou, acesse o vídeo da palestra pelo link www.cpfcultura.com.br/(...).


Próximo encontro:
23/10

Tema: Literatura.
Obra: As cinzas das horas, Manuel Bandeira.
Indicação: Ana Carla

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Liberdade?!

Ser livre é algo tão complexo.
O meio precisa nos oferecer oportunidades de conhecimentos e precisamos ter o impulso para ir em busca dos mesmos.
Muitas vezes, somos expostos a diversas possibilidades de crenças e atitudes, e mesmo assim torna-se mais cômodo ficarmos presos ao que nos foi ensinado sem questionarmos.
Essa é uma maneira de estarmos presos.
Precisamos ter conhecimento da diversidade e coragem para não aceitar aquela que nos limita.

Simone de Beauvoir não se limitou.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

LIBERDADE À BEAUVOIR

Freedom

Liberté

Freiheit

Libertad

自由, 特权, 坦率

חירות; חופש; עצמאות; פטור;

Vrijheid

Libertà

解散; 解放; 独立; 免除; 名誉市民; 自由

ad infinitum.......

terça-feira, 5 de outubro de 2010

EXISTIR: POR QUE HAVEMOS DE SER?

Imagem: Google
Casamento estável (!?), um amante, um marido (que nem sonha), duas filhas, pais divorciados. Amigos poucos. Vida social normal pra uma mulher casada: encontros familiares, amigos da classe social correspondente (burguesia). Na cabeça, mil idéias, mil questionamentos, mil porquês.

Laurence é justa e correta, uma publicitária normal. E Simone de Beauvoir apenas se encarrega de adentrar sua mente e nos conduzir nesse emaranhado mental nas deliciosas 140 páginas de As belas Imagens, ao íntimo dessa mulher.

Laurence é apenas uma grande questionadora. Ela cria, recria, analisa, modifica, reconsidera, elenca, tria, pondera, assusta-se, frustra-se si quando frusta os outros. Da adolescência de menina impecável, perfeita, moça excelente, direita, primorosa, perfeita... Laurence diz adolescência podada, limitada, restrita.

Laurence questiona sua vida, sua felicidade, enxerga a alegria, questiona a felicidade, tenta justificar a solidão, tenta entender as trivialidades do olhar/perspectiva da mãe sobre a vida e a profundidade da solidão do pai, em todas as nuances dos seus mistérios (com seu pai, nem as banalidades são banais, por causa daquela luz de cumplicidade nos olhos dele).

Laurence tenta ser uma boa mãe, espelhando-se inclusive nos equívocos cometidos com a própria em infância.

Laurence repensa o “caso extraconjugal” e não o casamento.

Laurence repudia a trivialidade.

Percebi um quê de superioridade nesse questionar-se contínuo. Nessa apatia, nessa perspectiva deja vu incondicional diante de muitos fatos (... não se tem razão contra todo mundo...).
"Eu não era uma imagem; mas outra coisa também não: nada"

Fiquei com vontade de Ler mais Beauvoir. De me apoderar mais do saber existencialista.