quarta-feira, 14 de março de 2012

Falta não significa ausência

O livro estava na minha estante há pelo menos três anos. Quando minha amiga me entregou, disse apenas: leia, você vai gostar. Protelei o quanto pude porque, na verdade, não botei fé no que ela falou. Folheei e joguei-o para o fim da fila.
Com a indicação para o café, pude, finalmente, constatar as palavras dela. Eu não só gostei da história, como me identifiquei com o protagonista em algumas situações.
Por que nossas reações devem ser convencionadas? Por que temos que chorar em determinados momentos e sorrir em outros? Existe lei que nos obrigue a sermos iguais?
Meursault era uma cara que só queria viver e pronto. Não almejava nada além disso. E, de fato, a vida não precisa tornar-se  essa guerra de ação e reação na velocidade da luz que a sociedade nos exige. Que tal dançarmos uma valsa  e não um rock?!
Você pode colocar sua mãe num asilo. Você pode não chorar no enterro dela. Você pode não ser apegado ao trabalho, as pessoas, ao dinheiro. Você pode ser estranho!Cada um tem um tempo, uma vontade e uma forma de expressar, caso queira ou não. E quando a falta de vontade é tão natural dá gosto.
Meursalt pode significar, para alguns, a frieza em pessoa, para mim, ele foi ele, simplesmente. Não havia uma preocupação em ser algo ou alguém. Havia apenas ele e o tempo. Este passando e aquele distraindo-se enquanto isso ocorria. Desse modo, reagindo apenas ao presente, quando inevitável (porque se pudesse evitar, faria), ele foi preso julgado e condenado a morte.
Nesse período entre a prisão e a condenação fiquei na expectativa (na minha lesa visão hollywoodiana das histórias) de uma possível mudança brusca de comportamento, afinal, sua vida estava em jogo. Mas ele foi, surpreendentemente, ainda mais estrangeiro, ainda mais livre. Era um cara muito consciente, mas não sentia obrigação de dividir.

terça-feira, 6 de março de 2012

O estrangeiro e a frieza de sentimentos

Quando iniciei a leitura, diante da frieza de sentimentos, pensei que se trataria de descrição de um personagem com algum transtorno de personalidade ou patologia psíquica. Mas não. O personagem, ao meu ver, é uma caricatura das ideias existencialistas.

Em forma de romance o autor retratou duas fortes ideias existencialistas: o viver somente o presente de cada dia e “ser condenado a morrer”. O estar diante da morte é a principal fonte de angustia e mal estar das pessoas, somente ao se aceitar esta "condenação" é possível se viver mais plenamente e em "paz". 

Lembrei muito do filme Melancolia.

Carla Zambaldi

domingo, 4 de março de 2012

Estrangeiro... para quem?

Um ser sem paixão. Sem paixão pelo momento, pelas coisas, pela pessoa, pela vida. Tudo transcorre sem a menor vontade, sem o menor ímpeto, nem desejo. “Hum Hum. Tá certo” “Hum Hum. Tá certo”, é o que imagino que Mersault mais diria se fosse um de nós, hoje em dia.

Não ter as reações esperadas diante das situações foi o seu crime. Ele não correspondeu às expectativas morais do outro, da outra, da sociedade, de ninguém. A condenação talvez tenha sido a sua libertação.

Para quantos não seria?