terça-feira, 30 de novembro de 2010

'Brasil, mostra a tua cara!'

Somos todos negros, de fato. Viemos todos da mesma raiz. Eu: loira de olhos azuis, porém com o “pé na senzala”, como diriam alguns. Referindo-se ao fato de que negro só veio ao Brasil para ser mão-de-obra. Sim, ele veio para ser a mão-de-obra, também, mas não só. Ele veio, também, para ser a base dessa nação.
Imagem: Google
O brasileiro - quer queira, quer não – é negro.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

BRASILEIROS: FILHOS INGRATOS DE UMA "MÃE PRETA"?

Imagem: Google
Franck Pierre foi implacável, pragmático e muito feliz ao filosofar de maneira coerente e serena sobre o tema. Sem pestanejar, ao final do texto, eu tinha chegado a uma conclusão sólida e facilmente perceptível aos meus olhos: no Brasil não se dá importância ao continente africano e as suas populações no que tange o processo histórico de formação da sociedade brasileira.
Na escola aprendemos todos nós, além de que a minhoca é hermafrodita e sobre a tênia solitária, que o Brasil tem uma pátria mãe. E essa é Portugal.
Mas franck Pierre foi longe e conseguiu discutir as implicações, do ponto de vista político, identitário e pedagógico, ligadas à discussão sobre o lugar da África na análise da sociedade brasileira.
Nossa pátria mãe então, apesar da não menos rica cultura e linda língua que nos deixou de herança, temos de relembrar: entrou sem ordem nas terras de cá, vindos das bandas de lá do Atlântico; ignorou os que aqui moravam (tupis guaranis, macro-jês, tapuias, arauaques, caraíbas...), não apenas escravizando, como oprimindo, estuprando, mudando costumes e violentando a cultura e a religião. Mas
Não satisfeitos (nossos pais portugueses) com os “prequiçosos indiozinhos” que não entendendo o porquê do dever de trabalhar para brancos recém-chegados, se negavam ao atendimento das ordens brancas, a alternativa foi trazer os negros africanos para essa etapa da “implantação” da civilização na terra do pau Brasil.
É engraçado, a imagem que vem a cabeça: centenas de navios, cruzando os mares com homens e mulheres negros. E ponto. Não quero me culpar por essa imagem, mas é com ressentimentos que vejo o quanto minimizei por anos o assunto.
Naqueles navios, como lembrou Franck Pierre, vinham africanos de diferentes camadas sociais, sacerdotes, guerreiros, reis, pastores, que tinham religiões diversas, procediam das mais diferentes regiões e culturas, inclusive muitos pertencentes a grupos rivais.
Todos violentamente retirados de seu mundo, de suas culturas, de seus cantos, de suas pátria, de suas famílias, pra virem pra uma terra distante, carregados como animais, dentro de porões de navios sujos, passando sede, frio e fome. Suscetíveis a doenças de todas as espécies, tentando sobreviver aos meses de viagem pro “novo mundo”.
Meu Deus... essa é a nossa história.
Mas quem são nossos pais? Os que “descobriram” uma terra já descoberta e habitada por milhares de moradores? Que passaram pelo atlântico em busca de riquezas pra pagamento de suas dívidas e enriquecimento de sua nobreza? Os milhares de nativos que já resisdam em terras brasileiras? Ou os donos dos braços que literalmente ergueram a estrutura “civilizatória” dessa terra?
Tirem suas conclusões... eu já tenho as minhas.
Pra mim somos filhos miscigenados de múltiplas raças e culturas. Temos valiosos genes felizes de gente branca européia, de índios nativos da nossa pátria e de nobres negros africanos. Somos gente rica de valores, produto de um cruzamento genético muito feliz que deu origem a esse povo maravilhoso que somos nós, os negros-índios-brancos brasileiros!
Uma lástima é nossa educação. Uma lástima é o valor dado ao nosso minimizado passado negro e índio. Uma lástima é o preconceito que existe dentro de cada um de nós. Uma lástima é o entendimento deturpado e ignorante que aprendemos desde a mais tenra idade.
Hoje o cidadão brasileiro negro, continua segregado (ache ruim, ler isso quem quiser), mas continua. E não sou eu quem digo isso, são os fatos, os números, a realidade!!
Hoje, poucos negros conseguem chegar ao ensino superior. Antes de 2004, quando as cotas foram estabelecidas na Universidade Federal da Bahia, por exemplo, apenas 4% dos alunos do curso de Medicina eram negros, enquanto que, no estado, 70% da população se declarava negra. Era uma exclusão que não se vê igual nem na África do Sul, durante o Apartheid.
Os brasileiros precisam encarar a questão da desigualdade sob o ponto de vista racial. Até 1970, 90% dos negros eram analfabetos, porque, após a abolição da escravidão, o Estado abandonou os negros, ao contrário do que fez com os imigrantes, que foram financiados pelo governo para virem para o Brasil.
Certamente que a real saída é a educação pública de qualidade, com políticas sociais que minimizem as diferenças, mas as políticas temporárias de ações afirmativas como as instituições de cotas raciais, que diminuem a grande distância que ainda existe entre brancos e negros no país, são ao meu ver fundamentais.
O Brasil tem uma dívida histórica com os negros e já passou da hora de o governo federal, encarar isso de frente, enfrentar os preconceitos e as distorções dos discursos e corrigir minimamente esse saldo histórico. Gilberto Freyre disse que ninguém liberta ninguém e ninguém se liberta sozinho. A gente só se liberta pela comunhão. E ele estava certo!
Vou respeitar muito quem falar da constituição, de quem levantar a questão genética de que somos todos negros, etc, etc, etc, mas como o tema foi levantado na mesa, registro meu total apoio a política de cotas raciais. No entendimento de que a dívida histórica de séculos de abandono aos negros,vai demorar muito pra ser paga.
E quanto às distorções... justificar que a política de cotas as alimenta, é justificar que o Bolsa família deve deixar de matar a fome de muita gente miserável, pelo fato de existirem muitos malandros e mal elementos, que sem necessitar, recebem o auxílio. O problema não é do programa, da teoria e sim da prática criminosa de quem deturpa o sistema. Não dá pra ser contra cotas, por esse argumento. As distorções devem ser corrigidas. Sei que tem sangue negro correndo em minhas veias e nas veias de cada brasileiro (e burro é alguém se achar branco em nosso país), mas acho que todo mundo tem elementos mínimos pra entender que se os genes que predominaram na determinação de sua cor, forem os genes que determinarem sua cor negra, as chances de você ter menos chances, são inúmeras. Não adianta negar.
Viva José do Patrocínio, João Alfredo, Zumbi dos Palmares, Princesa Isabel, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, André Rebouças, Luíz Gama, Antonio Bento e todos os outros milhares de abolicionistas anônimos que combateram a seu tempo, com entendimento 'são' e avançado, o direito dos negros serem seres humanos, como sempre foram. Aos grandes homens e mulheres que numa época atrasada e hostil, enfrentaram o sistema, não se acomodaram, não se subjugaram, não foram convencidos pelos discursos hipócritas de uma maioria inescrupulosa que por séculos conseguiu convencer, os míopes que se recusavam a pensar.
Viva os negros de nossa pátria mãe gentil. Que essa pátria também seja mãe gentil de cada cidadão negro do país. Que a eqüidade seja lembrada como uma necessária borracha corretiva. Que no futuro consigamos nos ver como iguais (como todos somos) e que as cotas, estejam apenas nos livros didáticos, lembradas apenas como remédio temporário que ajudou pra que nesse país, os brasileiros conseguissem se ver como iguais e terem as mesmas oportunidades, independente de cor.
BRASILEIROS:FILHOS INGRATOS DE UMA "MÃE PRETA"? Acho que tá na hora mudarmos essa história.

"RACISMO É BURRICE"

Imagem: Google

Salve, meus irmãos africanos e lusitanos, do outro lado do oceano
"O Atlântico é pequeno pra nos separar, porque o sangue é mais forte que a água do mar"
Racismo, preconceito e discriminação em geral;
É uma burrice coletiva sem explicação
Afinal, que justificativa você me dá para um povo que precisa de união
Mas demonstra claramente
Infelizmente
Preconceitos mil
De naturezas diferentes
Mostrando que essa gente
Essa gente do Brasil é muito burra
E não enxerga um palmo à sua frente
Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma mais consciente
Eliminando da mente todo o preconceito
E não agindo com a burrice estampada no peito
A "elite" que devia dar um bom exemplo
É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento
Num complexo de superioridade infantil
Ou justificando um sistema de relação servil
E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da discriminação
Não tem a união e não vê a solução da questão
Que por incrível que pareça está em nossas mãos
Só precisamos de uma reformulação geral
Uma espécie de lavagem cerebral


Racismo é burrice

Não seja um imbecil
Não seja um ignorante
Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante
O quê que importa se ele é nordestino e você não?
O quê que importa se ele é preto e você é branco
Aliás, branco no Brasil é difícil, porque no Brasil somos todos mestiços
Se você discorda, então olhe para trás
Olhe a nossa história
Os nossos ancestrais

O Brasil colonial não era igual a Portugal
A raiz do meu país era multirracial
Tinha índio, branco, amarelo, preto
Nascemos da mistura, então por que o preconceito?

Barrigas cresceram
O tempo passou
Nasceram os brasileiros, cada um com a sua cor
Uns com a pele clara, outros mais escura
Mas todos viemos da mesma mistura

Então presta atenção nessa sua babaquice
Pois como eu já disse racismo é burrice
Dê a ignorância um ponto final:
Faça uma lavagem cerebral

Racismo é burrice

Negro e nordestino constróem seu chão
Trabalhador da construção civil conhecido como peão
No Brasil, o mesmo negro que constrói o seu apartamento ou o que lava o chão de uma delegacia
É revistado e humilhado por um guarda nojento
Que ainda recebe o salário e o pão de cada dia graças ao negro, ao nordestino e a todos nós
Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói
O preconceito é uma coisa sem sentido
Tire a burrice do peito e me dê ouvidos

Me responda se você discriminaria
O Juiz Lalau ou o PC Farias
Não, você não faria isso não
Você aprendeu que preto é ladrão
Muitos negros roubam, mas muitos são roubados
E cuidado com esse branco aí parado do seu lado
Porque se ele passa fome
Sabe como é:
Ele rouba e mata um homem
Seja você ou seja o Pelé
Você e o Pelé morreriam igual
Então que morra o preconceito e viva a união racial
Quero ver essa música você aprender e fazer
A lavagem cerebral

Racismo é burrice

O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista
É o que pensa que o racismo não existe
O pior cego é o que não quer ver
E o racismo está dentro de você

Porque o racista na verdade é um tremendo babaca
Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca
E desde sempre não pára pra pensar
Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar
E de pai pra filho o racismo passa
Em forma de piadas que teriam bem mais graça
Se não fossem o retrato da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando
É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando

Nenhum tipo de racismo - eu digo nenhum tipo de racismo - se justifica
Ninguém explica
Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança cultural
Todo mundo que é racista não sabe a razão
Então eu digo meu irmão
Seja do povão ou da "elite"
Não participe
Pois como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice

Racismo é burrice

E se você é mais um burro, não me leve a mal
É hora de fazer uma lavagem cerebral
Mas isso é compromisso seu
Eu nem vou me meter
Quem vai lavar a sua mente não sou eu
É você.

Racismo É Burrice

Gabriel O Pensador

Composição: Gabriel O Pensador
Fonte: letras.com

terça-feira, 23 de novembro de 2010

NO MERCADO 153

A (in)consciência sobre o racismo que infelizmente ainda existe na sociedade contemporânea foi o tema de discussão do último encontro do grupo Café com Leitura, realizado sábado, dia 20, no bar Mercado 153, no Shopping Guararapes, em Piedade.
Ana, Anna Flávia, Bárbara, Glenda, Manuela, Leusa e Lila debateram sobre o texto “África, Mãe Negra do Brasil ou Apontamentos para uma nova consciência multicultural”, indicado por Glenda. O dia foi duplamente especial: todas reunidas e também foi o Dia da Consciência Negra.


O texto-tema do debate é de autoria do sociólogo francês Franck Pierre Gilbert Ribard. Ele traz importantes reflexões sobre as relações estigmatizadas entre o Brasil e o continente africano. Ao lermos o material, paramos para pensar com mais atenção sobre o preconceito racial quando estudamos nossas verdadeiras raízes, as raízes africanas. A leitura, muito leve embora o tema seja espinhoso, pode levar-nos a uma conclusão bem resumida, sem querer ser minimalista: “Somos todos negros, sim”.

A discussão em torno do texto de Franck também suscitou uma outra que integra o nosso cotidiano: as cotas de negros nas universidades públicas. O assunto, provocado por Ana, gerou polêmica (que bom!). O grupo ficou dividido, ou semi-dividido em dois polos: cotas para negros ou cotas sociais? O que seria mais justo? Bom, a visão sobre essas e outras reflexões vamos conferir nos próximos dias, com as postagens das integrantes do grupo.

Próximo encontro:
Dia: 11/12
Tema: Cinema
Filme: Minhas mães e meu pai
Indicação: Manuela

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sincera entrega


Quando Leone escreve em seu diário ela não quer machucar, nem afrontar ninguém.

Ela quer se entender, entender essa vida que a rodeia, seus sentimentos mais profundos.

Ela se entrega ao seu diário com uma inocência e com uma sinceridade que muitos não fazem, e por causa dessa sua franqueza ela paga um alto preço. É rechaçada pelos que a rodeiam.

De fato as mazelas da cidade estão naquele caderno, por isso o rebuliço, a revolta, a agressividade.

Usam o preconceito para desfocar os seus podres, por isso ressaltam tanto o namoro das duas. É esse o fato que tem que ser exaltado para ser punido, e não as delações de Leone.

Ficam para mim duas questões:
Quantas pessoas não exaltam o que não é habitual no outro para esconder o tosco que existe nelas?

Será que existe pessoa nesse mundo que escreve tudo o que realmente pensa? Que se entrega a escrita sem medidas e sem pensar que um dia alguém poderá ler?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Nosso Diário

Imagem: Google


O quê escrever?
Onde guardar?
O quê não dizer?
E, como enfrentar?

A dor e a delícia...

Sofrer com os preconceitos de uma sociedade hipócrita... Em que ano estamos?
1950 - 1970 - 1990 - 2010

Se Léone era adiantada pra época? Não sei o que pensar se ainda hoje estamos atrasados pra nossa.

sábado, 13 de novembro de 2010

LÉONE E SEUS OPOSTOS

Uma adolescente que ria da hipocrisia da sociedade da época.

Gostava de Mélie, garota com a qual tinha uma tórrida e ao mesmo tempo mansa relação amorosa.

Apesar de independente, de andar praticamente nua na pequena cidade francesa sem se importar com os olhos aprisionadores dos outros, nas mãos de Mélie virava uma bonequinha indefesa.

Adorava ser possuída por Mélie. De ter o seu sexo e sua alma sugados por ela nas tardes voluptuosas que desfrutava na casa da garota amada.

A descoberta do diário deixou Léone furiosa, depois triste, depois destroçada.

Mas não por conta de ter os seus segredos revelados para a cidade inteira e, sim, pelos efeitos que eles causaram nos seus queridos.

Arrependeu-se de alguns amigos. Arrependeu-se dos momentos íntimos que desfrutou com um dos garotos covardes que lhe chantageou.

Léone gostava de Mélie, mas também queria saber o gosto de ter um mastro dentro da sua vagina.

Era uma adolescente cheia de opostos. Aliás, sua vida era regida por contraditórios.

O desfecho da sua história não foi tão arrebatador quanto o escândalo gerado por ela.

Léone foi embora. Mélie jurou-lhe amor eterno. Mas o eterno pode não ser fiel.

Imagino a cafonice que Léone acharia de ainda discutirmos, em pleno século 21, a legalização da união civil entre pessoas do mesmo sexo.

Se ainda estivéssemos numa cidadezinha do interior da França...

Mesmo assim Léone riria da nossa hipocrisia.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

ADOLESCENTE AMIZADE COLORIDA

Imagem: Google
Livro com sabor de tristeza.
Foi sem dúvida o sentimento predominante na leitura, além de inquietação e indignação.
Não conhecia a autora: Régine Deforges. Um nome pra se guardar e conhecer melhor é claro. Conhecida por sua literatura “erótica”, à primeira impressão pelo menos pra mim não foi de ênfase no erotismo, mas na peculiaridade de uma escrita dinâmica, atraente, pragmática, sem arrodeios, que deixa você extremamente desejosa da próxima linha, da próxima página.
O Diário é de uma menina é roubado. Nele um coração aberto ao silencioso confidente, desenha as cores de uma vivência amorosa de duas adolescentes francesas de uma pequena cidade francesa.
O moralismo é colocado a toda prova naquela cidade, que incrimina uma pós-criança, não pelo seu amor, mas pela exposição das “histórias imundas da cidade”. De fato, sob o álibi repúdio ao “proibido e pecaminoso” amor adolescente, a ira da cidade sobre uma adolescente atraente, provocante, independente e desapegada de amarras sociais, a cidade vocifera, agride, escanteia, tripudia da bela Léone.
O melhor é a descrição da forte personalidade dela. As descrições dos seus momentos de devaneios, de entrega aos prazeres de toda ordem, de sua sensibilidade e entrega ao mundo e à natureza, ao belo, à liberdade.
“A noite no campo exige que o ser humano se integre totalmente à sua movimentação, que é lenta e profunda”
“... em muitas oportunidades, transtornada pelas recordações, tive de interromper o que escrevia para me acariciar”
“Gostaria tanto de poder dizer a minha mãe o quanto estou atemorizada, o quanto preciso dela, que os seus silêncios e os meus me sufocam... sua boa educação impede-a de simplesmente me ouvir discorrer sobre o amor e dizer o que ele significa”
“Somos os mais belos, os mais fortes, os mais generosos, nada resistirá a nós”
“...minhas angústias em relação à morte, meu desejo de Deus, tão constantemente ausente, meu desgosto por não ser amada por meus pais como gostaria e por não amá-los como eu quereria”
“ Não vejo em que nosso amor é mais sujo ou mais nojento que o deles”
“...perfume da água, do carvalho meu amigo, da suavidade do sol sobre minha pele, da água tépida... não, eles são muito fechados em si mesmos para compreender essas coisas banais e simples”
“Ninguém é suficientemente louco ou bastante infeliz para procurar paz de espírito nesta noite chuvosa”
Fragmentos que me fascinaram completamente nessa narrativa atraente e cativante
Pra variar: Vale a pena!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Café no Dalena

Foto: Manuela Lins

O grupo café com leitura reuniu-se no último sábado no Dalena tortas finas para discutir a "polêmica" leitura do livro O diário roubado (Régine Deforges).
A história da pequena Léone comoveu o grupo e rendeu mais uma deliciosa troca de opiniões que durou cerca de quatro horas.
Em breve, as impressões individuais!
Próximo encontro: 20/11/2010
Tema: sociedade
Artigo: África mãe preta do Brasil
Indicacão: Glenda

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ele escrevia a neblina dos dias!

A Mário de Andrade ausente

Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunharam:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.
Sei bem que ela virá
(Pela força persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra.
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue.
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente.
Mas agora não sinto a sua falta.
(É semrpe assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)
Você não morreu: ausentou-se.
Direi: Faz tempo que ele não escreve.
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.
Saberei que não, você ausentou-se. Para outra vida?
A vida é uma só. A sua continua
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua falta.
(Manuel Bandeira)

Foi através desse poema que eu conheci Bandeira e passei a admirá-lo.
Não me dou muito bem com a poesia. Não que eu não goste. Não é isso. Mas eu não sei respirar e isso dificulta a leitura de qualquer texto, especialmente, de poemas porque devem ser lidos em voz alta, pois a sonoridade (a rima) faz parte e é bem relevante na obra.
Lançado o "desafio" dessa leitura, oportunizou-se mais uma chance de conhecer suas obras. Respirei fundo e lá fui eu!
Em o livro A cinza das horas, o autor reuniu poemas sobre horas cinzas de sua infância, de seus amigos, de sua poesia, de seus dias. E daí refletiu-se a cor no livro, nos poemas, nas palavras. Entretanto, o cinza não destrói o colorido da beleza da obra.
A respiração continua ruim, mas na inspiração fez toda diferença.

P.S.:
"Foi por esse amor
Teu corpo é tudo que brilha
É a única ilha no oceano
Do meu desejo

Foi por esse amor
Tão bela flor de laranjeira
Teu corpo é tudo o que cheira"
(Chiclete com Banana)

A semelhança será mera coincidência?rs.




quinta-feira, 4 de novembro de 2010

VIVA, MANUEL BANDEIRA!

A morte é de cada um o norte
Companheira de todas as horas
Porque é impossível prever
Quando de nós se assenhora


Mas será esta tão ruim assim?
Imagine, então, se ela deixasse de existir?
Como seria a nossa vida sem a morte?
Essa verdadeira e fiel consorte


Seria o fim da vida
Seria o fim da morte
Seria a nossa má sorte
Como bem imaginou Saramago


Saudemos a vida
Saudemos a morte
Saudemos a morte dentro da vida
Saudemos a vida e a morte


Embora cause estranhamento
Temos que admitir a necessidade do morrer
Afinal, somos seres pensantes
E não meros cadáveres ambulantes

Mas vamos deixar pra pensar sobre isso depois, né?

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

"O POETA É A PIMENTA DO PLANETA"

Imagem: Google
Pra mim... muito prazeroso (re) ler Bandeira. Velhas recordações do meu tempo de colegial 1
Não sei se se tratava de mera coincidência, ou se era realmente preferência da professora de literatura, mas lembro como ela gostava de analisar os poemas de Manoel Bandeira!
E nesta época de Café com Leitura, tentando também sair da rota do circuito e alternativizar estilos, tentando privilegiar um autor pernambucano... só veio Bandeira na cabeça e quando lembrei da deixa de Adriana, a Calcanhoto... então, não pestanejei: é ele mesmo. E lá foi minha indicação!
Ele fazia versos como quem chorava...
Seu verso era sangue, volúpia ardente, tristeza esparsa, remorso vão, angústia rouca...
Eram versos comovidos...
Ele imaginava que quem os lesse, encontraria nos mesmos uma sombra de beleza...
Era assim que ele falava da própria poesia.
Quanto a mim, ouso falar: A Cinza das horas é um livro gostoso de ler. Poesias ortodoxas, bem trabalhadas metricamente, com variações de construção e sempre com elas: as rimas. Na verdade, não tenho muito contra elas, porque aprecio a ousadia de conseguir dizer o que se dizia, com o capricho das rimas, de maneira metricamente impecáveis.
Bandeira fala da própria escrita, louva Camões, aprecia a natureza (e muito: lua, tardes, horizontes, paisagens...), lembra da infância, da família (mãe, irmã, avô...) fala de amor de paixão, da beleza, de tristeza, de morte, de dor, de alegria...
Senti falta de um olhar mais politizado, mas pra um burguês que era... parece que ele dançava a dança do seu centrismo. É claro que não vou desqualificar a sua poesia por conta disso... é apenas uma constatação. Visto que tenho forte tendência a louvar o que não sei (nem de longe) fazer (tão) bem.
Engraçada uma constatação coletiva: como a leitura do livro é cinza! Vem versos, mudam perspectivas e temas, mas a maioria dos poemas são cinzas. As imagens mentais que vêm, são cinzas... Algum psicólogo pra ajudar? Como é que ele fez isso?
“Tudo que amamos são pedaços vivos do nosso próprio ser”
(A vida assim nos afeiçoa, p.25-26)
1 Ensino médio no meu tempo.