sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Um elenco fantástico

Um elenco fantástico. Um tema infelizmente pouquíssimo explorado. Pode deixar a sensação de falta, de que algo poderia ser diferente. As relações humanas são complexas demais para serem condensadas num filme só, imagina então uma relação entre duas mulheres! Põe complexidade nisso.

Gostei do filme de uma maneira geral, apesar de perceber algum excesso por parte da comédia quando tratou da vida sexual das personagens, Jules e Nicky. Lésbicas fazer sexo, é fato. E não precisam de pênis para isso. Achei a piada grosseira e desnecessária, mas faz parte, dá para relevar. Afinal um filme, americano que mostra a estória de duas mulheres que construíram uma vida, uma família juntas é um grande passo, quase uma chegada a lua.

A partir do momento em que a homossexualidade, principalmente a feminina, ganha espaço, saindo do âmbito de filmes eróticos onde alimentavam fantasias masculinas para comédias românticas, dramas, romances sem finais trágicos, podemos perceber que aos poucos, bem aos poucos, a sociedade vem caminhando para o reconhecimento de que a orientação sexual é apenas mais uma nuance do ser humano, e que gays são pessoas que amam, sentem, desejam, formam família como qualquer outro, e que sofrem com preconceitos estúpidos que os colocam como pessoas de segunda categoria, negando-lhes direitos civis e muitas vezes a sua própria existência, como vemos tantas e tantas vezes nas famosas novelas nacionais.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Minhas mães, meu pai e nosso vazio!



A família não convencional de Nic nem sentia que não estavam perfeitamente felizes. Havia ressentimentos, vazios e insatisfações para todos os lados. E o aparecimento de Paul, fez com que todos começassem a buscar a solução para seus "problemas". O amor, que após 20 anos de convivência, era demonstrado mais lentamente e em gestos simples, adormecia, e sobrou espaço para o egoísmo:


Joni e Laser passaram a gostar da ideia de conviver com um adulto mais leve, divertido e menos centralizador.



Jules  passou a entregar-se, sem esforço, ao novo olhar e ao novo prazer.


Paul, passou a cogitar a ideia de uma  vida nova com direito a mulher e filhos bem criados e prontos.



E, em meio a tudo isso, Nic só pensava numa forma de tirar Paul da vida de sua família para ela voltar a ter o controle da situação.


Trazendo para a realidade, fixando bem o pé no chão, concordaremos que todos tinham motivos que os fizeram caminhar naquelas direções. Refiro-me a todos mesmo, até a traição. Sei que não há justificativa, mas que há uma boa explicação, isso há.
E a traição (um dos pontos polêmicos no nosso encontro) foi essencial para que TODOS voltassem o foco para a família que estava desintegrando-se e enxergassem de fato o quê e quem era importante e essencial em suas vidas.
Não conheço quem chegou ao lugar certo sem caminhar em cima de seus erros.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

CERTAS COISAS

Estou me despindo não da boa educação, mas sim da conveniência social em não dizer certas coisas. Também peço licença a todas as técnicas de crítica para afirmar, de uma posição bem pessoal e emocional, que achei:

* Que a traição foi a pior coisa que uma poderia fazer contra a outra;
* Que a traída tem que ser menos centralizadora;
* Que aquele garoto é um chato;
* Que a pós-adolescente tem tudo para ser a pessoa mais centrada daquela família;
* Que aquele cara se acha o RD, mas não passa de um homem sozinho, quase chegando à meia-idade e com medo de ficar encalhado;
* Que adorei o filme! Indica um monte de erros que a gente não deve cometer.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

GRANDE FAMÍLIA: COM AMOR TODA ELA PODE SER UMA

Duas mulheres, dois filhos, uma família normal. Trabalho, escola, jantares familiares, crises de adolescentes, amizades adolescentes...

Gostei muito do tom de normalidade dado ao filme pela diretora Lisa Cholodenko. Chega desses clichês e da importância das crises de casamentos gays, muitas vezes evidenciadas nos filmes da temática, dando grifo ao preconceito, às dificuldades, etc e deixando de lado a potencial normalidade que pode ser vivenciada na criação amorosa e estruturada de um filho por parceiros (as) do mesmo sexo.

O filme pra mim trouxe muitas questões, que ao meu ver acabaram não podendo ser aprofundadas diante de tantas questões que tratou: casamento gay, inseminação, criação de filhos, direito dos filhos de conhecerem os doadores... enfim... pra mim, qualquer um desses aspectos já daria pano pra manga pra fazer de cada um deles, um filme.

Mas Lisa foi ousada e dirigiu tudo direitinho. Fica apenas um gostinho de quero mais em relação a alguns aspectos.

A polêmica maior pra mim foi a da traição mesmo. Porque a parte emocionante foi quando a traição se configura, como o retrato da família fica nítido, como há sofrimento, como os filhos tomam partido, como tenta-se preservar o núcleo familiar. Tudo que estava sendo enfocado, perde a importância e a preservação do amor, da família, a ênfase na união dos quatro se torna a prioridade.

Muito gostoso de ver. Vale a pena refletir.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Vamos combinar?

Imagem: Google
Ser pai é uma coisa totalmente diferente de ser o doador do esperma. 

Família não é, nunca foi e nem será, aquela composta obrigatoriamente de pai, mãe e filho(s). 

Mais importante que ter um pai e uma mãe é ter respeito, limites e amor em casa. 

Ter pais heterossexuais não faz os filhos serem heterossexuais, logo ser filho de homossexuais não mudará a orientação do rebento.

A felicidade dos filhos não está relacionada a orientação sexual dos pais.

E a combinação (mãe, mãe e filho(s); pai, pai e filho(s); pai, mãe e filho(s)...) é o que menos importa!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Um homossexual pode ser mãe/pai?


A partir do momento que decidimos ter filhos, começamos a adentrar em um mundo misterioso.

Não podemos prever como nada será. É diferente porque o casal é composto por pessoas do mesmo sexo? Por que? Os mistérios são os mesmos, nem mais, nem menos. Estaríamos privando esse futuro serzinho de um pai ou uma mãe por escolha? Também acredito que não, pois ser gay não é escolha. E o fato de ser gay impede de ser mãe/pai? Não, definitivamente não. O fato de uma futura criança nascer em uma família composta por duas pessoas do mesmo sexo não deve ser encarada como um pesar, como uma perda. "ahh essa criança perdeu a oportunidade na vida de ter uma pai (ou mãe, dependendo do casal)" Não, ele não "perdeu" a oportunidade, ele está vivo, bem cuidado, com carinho e com muito amor, essa é a melhor oportunidade de viver. Para mim, certas questões são mínimas diante da magnitude que é a vida. Se o futuro serzinho quiser saber as suas origens? Saberá. Mas isso trará algum vínculo afetivo? Dependerá de como ele(a) entenderá a vida, amores, cuidado, dependerá de como ele entenderá o que é ser FAMÍLIA. E ele(a), se tiver a sua família, mesmo que seja homoparental, bem estruturada, não sentirá buracos emocionais que precisem ser preenchidos por terceiros, alheios a tudo.
Bem, mas esse foi um dos pontos da discussão de sábado. Só que o fato de uma casal homoafetivo ter filhos não é nem questionado no filme. Mas foi questionado no encontro.
São muito os pontos que o filme levanta... esse foi o que me tocou.

Imagem retirada do Google.

domingo, 19 de dezembro de 2010

NO PETIT BISTROT

Começou com Glenda, que tirou Anna Flávia, que tirou Leusa, que tirou Ana Carla, que tirou Manu, que tirou Glenda e parou a corrente momentaneamente porque faltavam Bárbara e Lila e ambas se tiraram e tudo deu certo! Antes que você continue achando estranho esse texto, vou logo explicando que essa foi a ordem da nossa Amiga Secreta. Pois é. O último encontro do Grupo Café com Leitura de 2010 aconteceu no sábado dia 11, no Petit Bistrot, em Casa Forte, com sabor de confraternização e troca de presentes, símbolo de uma amizade e companheirismo que estão sendo construídos quinzenalmente de forma presencial, mas quase que diariamente com as nossas trocas de emails.

Mas não foi só congraçamento, não. O the end year meeting teve como discussão o filme “Minhas mães e meu pai”. A película conta a história de duas mulheres casadas que geraram, cada uma, um filho biológico cujo pai vem de um banco de sêmen. Polêmico? Sim, pela própria história, que nos levou a um questionamento: contar ou não para um filho quem é o seu pai em um caso como esse? Ele tem o direito de saber ou isso não importa já que a semente foi apenas uma semente e não um ser participante? Complicado? Assista ao filme e leia as nossas postagens, não importa em que ordem.

Aproveitando essa conversa, o Grupo Café com Leitura informa aos seus queridos leitores que voltará às atividades na segunda semana de janeiro, quando discutiremos outra obra. Até lá e boas festas de fim de ano!

Próximo encontro:
Dia: 08/01/11
Tema: Literatura
Livro: Aquele dia junto ao mar
Indicação: Anna Flávia

sábado, 11 de dezembro de 2010

Parece Mentira

Parece mentira

Em leituras seguidas

Falamos de preconceito

Seja gay, seja preto

As únicas coisas que ficam são

Hipocrisia e desrespeito

Com o direito que o outro tem de ser diferente.

Em qual escala cromática de pele deixamos de ser pretos para nos tornarmos brancos?

Num País que deveria, sim, se orgulhar por sua diversidade, onde a menina mais loirinha é negra, é desumano qualquer tipo de discriminação. Já que tantos fazem questão de tratar pessoas como cachorros ou gatos, aí vai: afinal, nesse País aqui alguém pode até parecer angorá ou persa, quem sabe siamês, mas no fundo o que somos mesmo é um bando de vira-latas da mais alta qualidade.

Somos muito mais africanos que europeus, na cor, no calor, no sabor, no ritmo e gingado, em tudo aquilo que nos orgulha dizer que somos brasileiros.

Para que se enganar? A Africa é nossa verdadeira mãe. Amém!


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Uma herança subestimada

Imagem: Google
O Brasil nasceu da nada amigável união entre a mãe África e o pai Portugal. O português foi pró-ativo, determinado. Pegou o primeiro bote e veio fazer fortuna do lado de cá. E, como não daria conta de tudo sozinho, optou pela mão-de-obra barata dos africanos. Obrigou nossa mãe a trabalhar em regime escravo em prol do benefício Português. Relação desequilibrada e desleal, que deixou ao nosso país uma herança de visão limitada e, por que não dizer burra, sobre a mãe que nos amamentou.
Não podemos negar a relevância das navegações, das 'descobertas', dos investimentos. Houve seu mérito. Porém, não devemos anular a contribuição dos que derramaram suor e sangue para que o Brasil chegasse onde está.
Estamos atrasados do horário de tirar a venda dos nossos olhos e entender que o continente africano não era nem é composto por países miseráveis e por escravos; enxergar que maior quantidade de melanina não significa inferioridade diante dos demais. Precisamos retirar os resquícios de uma visão de 500 anos atrás onde o homem, pelo simples fato de ser negro, era violentado nos aspectos físicos, sociais, culturais e carrega até os dias de hoje essa violência e esse sentimento de inferioridade.
Ainda há dúvida, medo e vergonha em algumas pessoas de admitirem sua descendência. As religiões africanas ainda são vistas como algo exótico e/ou engraçado. Às vezes, vira um hobby momentâneo. A cultura africana, muitas vezes vivenciada nas escolas, nos bairros, é tomada como algo brasileiro por simples falta de conhecimento dessa rica influência em nosso país.
Enfim, ainda há muitas barreiras para serem rompidas. Para isso existem as cotas (não entrarei no mérito), as leis obrigando o estudo da influência africana nas escolas e outras leis punindo atitudes racistas. Não é assim que funciona com a gente? Antes de curarmos a doença usamos uns paliativos. Um dia a cor da nossa pele será apenas um detalhe diante da complexidade do ser.

domingo, 5 de dezembro de 2010

É NA DIFERENÇA QUE PERCEBEMOS: SOMOS TODOS IGUAIS

Imagem: Google.
O que é ser diferente?
É não ser o mesmo?
É não ser igual ao outro?

E o que é ser igual?
É ser como os outros?
Ou ter na sua essência o que os outros têm?

Somos diferentes e iguais ao mesmo tempo
Diferentes porque temos nossas individualidades
Iguais porque temos as mesmas necessidades

Comer, viver, amar e ser amado
Morrer é uma consequência do viver
Da qual ninguém escapa

E vamos para o mesmo lugar

terça-feira, 30 de novembro de 2010

'Brasil, mostra a tua cara!'

Somos todos negros, de fato. Viemos todos da mesma raiz. Eu: loira de olhos azuis, porém com o “pé na senzala”, como diriam alguns. Referindo-se ao fato de que negro só veio ao Brasil para ser mão-de-obra. Sim, ele veio para ser a mão-de-obra, também, mas não só. Ele veio, também, para ser a base dessa nação.
Imagem: Google
O brasileiro - quer queira, quer não – é negro.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

BRASILEIROS: FILHOS INGRATOS DE UMA "MÃE PRETA"?

Imagem: Google
Franck Pierre foi implacável, pragmático e muito feliz ao filosofar de maneira coerente e serena sobre o tema. Sem pestanejar, ao final do texto, eu tinha chegado a uma conclusão sólida e facilmente perceptível aos meus olhos: no Brasil não se dá importância ao continente africano e as suas populações no que tange o processo histórico de formação da sociedade brasileira.
Na escola aprendemos todos nós, além de que a minhoca é hermafrodita e sobre a tênia solitária, que o Brasil tem uma pátria mãe. E essa é Portugal.
Mas franck Pierre foi longe e conseguiu discutir as implicações, do ponto de vista político, identitário e pedagógico, ligadas à discussão sobre o lugar da África na análise da sociedade brasileira.
Nossa pátria mãe então, apesar da não menos rica cultura e linda língua que nos deixou de herança, temos de relembrar: entrou sem ordem nas terras de cá, vindos das bandas de lá do Atlântico; ignorou os que aqui moravam (tupis guaranis, macro-jês, tapuias, arauaques, caraíbas...), não apenas escravizando, como oprimindo, estuprando, mudando costumes e violentando a cultura e a religião. Mas
Não satisfeitos (nossos pais portugueses) com os “prequiçosos indiozinhos” que não entendendo o porquê do dever de trabalhar para brancos recém-chegados, se negavam ao atendimento das ordens brancas, a alternativa foi trazer os negros africanos para essa etapa da “implantação” da civilização na terra do pau Brasil.
É engraçado, a imagem que vem a cabeça: centenas de navios, cruzando os mares com homens e mulheres negros. E ponto. Não quero me culpar por essa imagem, mas é com ressentimentos que vejo o quanto minimizei por anos o assunto.
Naqueles navios, como lembrou Franck Pierre, vinham africanos de diferentes camadas sociais, sacerdotes, guerreiros, reis, pastores, que tinham religiões diversas, procediam das mais diferentes regiões e culturas, inclusive muitos pertencentes a grupos rivais.
Todos violentamente retirados de seu mundo, de suas culturas, de seus cantos, de suas pátria, de suas famílias, pra virem pra uma terra distante, carregados como animais, dentro de porões de navios sujos, passando sede, frio e fome. Suscetíveis a doenças de todas as espécies, tentando sobreviver aos meses de viagem pro “novo mundo”.
Meu Deus... essa é a nossa história.
Mas quem são nossos pais? Os que “descobriram” uma terra já descoberta e habitada por milhares de moradores? Que passaram pelo atlântico em busca de riquezas pra pagamento de suas dívidas e enriquecimento de sua nobreza? Os milhares de nativos que já resisdam em terras brasileiras? Ou os donos dos braços que literalmente ergueram a estrutura “civilizatória” dessa terra?
Tirem suas conclusões... eu já tenho as minhas.
Pra mim somos filhos miscigenados de múltiplas raças e culturas. Temos valiosos genes felizes de gente branca européia, de índios nativos da nossa pátria e de nobres negros africanos. Somos gente rica de valores, produto de um cruzamento genético muito feliz que deu origem a esse povo maravilhoso que somos nós, os negros-índios-brancos brasileiros!
Uma lástima é nossa educação. Uma lástima é o valor dado ao nosso minimizado passado negro e índio. Uma lástima é o preconceito que existe dentro de cada um de nós. Uma lástima é o entendimento deturpado e ignorante que aprendemos desde a mais tenra idade.
Hoje o cidadão brasileiro negro, continua segregado (ache ruim, ler isso quem quiser), mas continua. E não sou eu quem digo isso, são os fatos, os números, a realidade!!
Hoje, poucos negros conseguem chegar ao ensino superior. Antes de 2004, quando as cotas foram estabelecidas na Universidade Federal da Bahia, por exemplo, apenas 4% dos alunos do curso de Medicina eram negros, enquanto que, no estado, 70% da população se declarava negra. Era uma exclusão que não se vê igual nem na África do Sul, durante o Apartheid.
Os brasileiros precisam encarar a questão da desigualdade sob o ponto de vista racial. Até 1970, 90% dos negros eram analfabetos, porque, após a abolição da escravidão, o Estado abandonou os negros, ao contrário do que fez com os imigrantes, que foram financiados pelo governo para virem para o Brasil.
Certamente que a real saída é a educação pública de qualidade, com políticas sociais que minimizem as diferenças, mas as políticas temporárias de ações afirmativas como as instituições de cotas raciais, que diminuem a grande distância que ainda existe entre brancos e negros no país, são ao meu ver fundamentais.
O Brasil tem uma dívida histórica com os negros e já passou da hora de o governo federal, encarar isso de frente, enfrentar os preconceitos e as distorções dos discursos e corrigir minimamente esse saldo histórico. Gilberto Freyre disse que ninguém liberta ninguém e ninguém se liberta sozinho. A gente só se liberta pela comunhão. E ele estava certo!
Vou respeitar muito quem falar da constituição, de quem levantar a questão genética de que somos todos negros, etc, etc, etc, mas como o tema foi levantado na mesa, registro meu total apoio a política de cotas raciais. No entendimento de que a dívida histórica de séculos de abandono aos negros,vai demorar muito pra ser paga.
E quanto às distorções... justificar que a política de cotas as alimenta, é justificar que o Bolsa família deve deixar de matar a fome de muita gente miserável, pelo fato de existirem muitos malandros e mal elementos, que sem necessitar, recebem o auxílio. O problema não é do programa, da teoria e sim da prática criminosa de quem deturpa o sistema. Não dá pra ser contra cotas, por esse argumento. As distorções devem ser corrigidas. Sei que tem sangue negro correndo em minhas veias e nas veias de cada brasileiro (e burro é alguém se achar branco em nosso país), mas acho que todo mundo tem elementos mínimos pra entender que se os genes que predominaram na determinação de sua cor, forem os genes que determinarem sua cor negra, as chances de você ter menos chances, são inúmeras. Não adianta negar.
Viva José do Patrocínio, João Alfredo, Zumbi dos Palmares, Princesa Isabel, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, André Rebouças, Luíz Gama, Antonio Bento e todos os outros milhares de abolicionistas anônimos que combateram a seu tempo, com entendimento 'são' e avançado, o direito dos negros serem seres humanos, como sempre foram. Aos grandes homens e mulheres que numa época atrasada e hostil, enfrentaram o sistema, não se acomodaram, não se subjugaram, não foram convencidos pelos discursos hipócritas de uma maioria inescrupulosa que por séculos conseguiu convencer, os míopes que se recusavam a pensar.
Viva os negros de nossa pátria mãe gentil. Que essa pátria também seja mãe gentil de cada cidadão negro do país. Que a eqüidade seja lembrada como uma necessária borracha corretiva. Que no futuro consigamos nos ver como iguais (como todos somos) e que as cotas, estejam apenas nos livros didáticos, lembradas apenas como remédio temporário que ajudou pra que nesse país, os brasileiros conseguissem se ver como iguais e terem as mesmas oportunidades, independente de cor.
BRASILEIROS:FILHOS INGRATOS DE UMA "MÃE PRETA"? Acho que tá na hora mudarmos essa história.

"RACISMO É BURRICE"

Imagem: Google

Salve, meus irmãos africanos e lusitanos, do outro lado do oceano
"O Atlântico é pequeno pra nos separar, porque o sangue é mais forte que a água do mar"
Racismo, preconceito e discriminação em geral;
É uma burrice coletiva sem explicação
Afinal, que justificativa você me dá para um povo que precisa de união
Mas demonstra claramente
Infelizmente
Preconceitos mil
De naturezas diferentes
Mostrando que essa gente
Essa gente do Brasil é muito burra
E não enxerga um palmo à sua frente
Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma mais consciente
Eliminando da mente todo o preconceito
E não agindo com a burrice estampada no peito
A "elite" que devia dar um bom exemplo
É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento
Num complexo de superioridade infantil
Ou justificando um sistema de relação servil
E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da discriminação
Não tem a união e não vê a solução da questão
Que por incrível que pareça está em nossas mãos
Só precisamos de uma reformulação geral
Uma espécie de lavagem cerebral


Racismo é burrice

Não seja um imbecil
Não seja um ignorante
Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante
O quê que importa se ele é nordestino e você não?
O quê que importa se ele é preto e você é branco
Aliás, branco no Brasil é difícil, porque no Brasil somos todos mestiços
Se você discorda, então olhe para trás
Olhe a nossa história
Os nossos ancestrais

O Brasil colonial não era igual a Portugal
A raiz do meu país era multirracial
Tinha índio, branco, amarelo, preto
Nascemos da mistura, então por que o preconceito?

Barrigas cresceram
O tempo passou
Nasceram os brasileiros, cada um com a sua cor
Uns com a pele clara, outros mais escura
Mas todos viemos da mesma mistura

Então presta atenção nessa sua babaquice
Pois como eu já disse racismo é burrice
Dê a ignorância um ponto final:
Faça uma lavagem cerebral

Racismo é burrice

Negro e nordestino constróem seu chão
Trabalhador da construção civil conhecido como peão
No Brasil, o mesmo negro que constrói o seu apartamento ou o que lava o chão de uma delegacia
É revistado e humilhado por um guarda nojento
Que ainda recebe o salário e o pão de cada dia graças ao negro, ao nordestino e a todos nós
Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói
O preconceito é uma coisa sem sentido
Tire a burrice do peito e me dê ouvidos

Me responda se você discriminaria
O Juiz Lalau ou o PC Farias
Não, você não faria isso não
Você aprendeu que preto é ladrão
Muitos negros roubam, mas muitos são roubados
E cuidado com esse branco aí parado do seu lado
Porque se ele passa fome
Sabe como é:
Ele rouba e mata um homem
Seja você ou seja o Pelé
Você e o Pelé morreriam igual
Então que morra o preconceito e viva a união racial
Quero ver essa música você aprender e fazer
A lavagem cerebral

Racismo é burrice

O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista
É o que pensa que o racismo não existe
O pior cego é o que não quer ver
E o racismo está dentro de você

Porque o racista na verdade é um tremendo babaca
Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca
E desde sempre não pára pra pensar
Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar
E de pai pra filho o racismo passa
Em forma de piadas que teriam bem mais graça
Se não fossem o retrato da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando
É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando

Nenhum tipo de racismo - eu digo nenhum tipo de racismo - se justifica
Ninguém explica
Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança cultural
Todo mundo que é racista não sabe a razão
Então eu digo meu irmão
Seja do povão ou da "elite"
Não participe
Pois como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice

Racismo é burrice

E se você é mais um burro, não me leve a mal
É hora de fazer uma lavagem cerebral
Mas isso é compromisso seu
Eu nem vou me meter
Quem vai lavar a sua mente não sou eu
É você.

Racismo É Burrice

Gabriel O Pensador

Composição: Gabriel O Pensador
Fonte: letras.com

terça-feira, 23 de novembro de 2010

NO MERCADO 153

A (in)consciência sobre o racismo que infelizmente ainda existe na sociedade contemporânea foi o tema de discussão do último encontro do grupo Café com Leitura, realizado sábado, dia 20, no bar Mercado 153, no Shopping Guararapes, em Piedade.
Ana, Anna Flávia, Bárbara, Glenda, Manuela, Leusa e Lila debateram sobre o texto “África, Mãe Negra do Brasil ou Apontamentos para uma nova consciência multicultural”, indicado por Glenda. O dia foi duplamente especial: todas reunidas e também foi o Dia da Consciência Negra.


O texto-tema do debate é de autoria do sociólogo francês Franck Pierre Gilbert Ribard. Ele traz importantes reflexões sobre as relações estigmatizadas entre o Brasil e o continente africano. Ao lermos o material, paramos para pensar com mais atenção sobre o preconceito racial quando estudamos nossas verdadeiras raízes, as raízes africanas. A leitura, muito leve embora o tema seja espinhoso, pode levar-nos a uma conclusão bem resumida, sem querer ser minimalista: “Somos todos negros, sim”.

A discussão em torno do texto de Franck também suscitou uma outra que integra o nosso cotidiano: as cotas de negros nas universidades públicas. O assunto, provocado por Ana, gerou polêmica (que bom!). O grupo ficou dividido, ou semi-dividido em dois polos: cotas para negros ou cotas sociais? O que seria mais justo? Bom, a visão sobre essas e outras reflexões vamos conferir nos próximos dias, com as postagens das integrantes do grupo.

Próximo encontro:
Dia: 11/12
Tema: Cinema
Filme: Minhas mães e meu pai
Indicação: Manuela

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sincera entrega


Quando Leone escreve em seu diário ela não quer machucar, nem afrontar ninguém.

Ela quer se entender, entender essa vida que a rodeia, seus sentimentos mais profundos.

Ela se entrega ao seu diário com uma inocência e com uma sinceridade que muitos não fazem, e por causa dessa sua franqueza ela paga um alto preço. É rechaçada pelos que a rodeiam.

De fato as mazelas da cidade estão naquele caderno, por isso o rebuliço, a revolta, a agressividade.

Usam o preconceito para desfocar os seus podres, por isso ressaltam tanto o namoro das duas. É esse o fato que tem que ser exaltado para ser punido, e não as delações de Leone.

Ficam para mim duas questões:
Quantas pessoas não exaltam o que não é habitual no outro para esconder o tosco que existe nelas?

Será que existe pessoa nesse mundo que escreve tudo o que realmente pensa? Que se entrega a escrita sem medidas e sem pensar que um dia alguém poderá ler?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Nosso Diário

Imagem: Google


O quê escrever?
Onde guardar?
O quê não dizer?
E, como enfrentar?

A dor e a delícia...

Sofrer com os preconceitos de uma sociedade hipócrita... Em que ano estamos?
1950 - 1970 - 1990 - 2010

Se Léone era adiantada pra época? Não sei o que pensar se ainda hoje estamos atrasados pra nossa.

sábado, 13 de novembro de 2010

LÉONE E SEUS OPOSTOS

Uma adolescente que ria da hipocrisia da sociedade da época.

Gostava de Mélie, garota com a qual tinha uma tórrida e ao mesmo tempo mansa relação amorosa.

Apesar de independente, de andar praticamente nua na pequena cidade francesa sem se importar com os olhos aprisionadores dos outros, nas mãos de Mélie virava uma bonequinha indefesa.

Adorava ser possuída por Mélie. De ter o seu sexo e sua alma sugados por ela nas tardes voluptuosas que desfrutava na casa da garota amada.

A descoberta do diário deixou Léone furiosa, depois triste, depois destroçada.

Mas não por conta de ter os seus segredos revelados para a cidade inteira e, sim, pelos efeitos que eles causaram nos seus queridos.

Arrependeu-se de alguns amigos. Arrependeu-se dos momentos íntimos que desfrutou com um dos garotos covardes que lhe chantageou.

Léone gostava de Mélie, mas também queria saber o gosto de ter um mastro dentro da sua vagina.

Era uma adolescente cheia de opostos. Aliás, sua vida era regida por contraditórios.

O desfecho da sua história não foi tão arrebatador quanto o escândalo gerado por ela.

Léone foi embora. Mélie jurou-lhe amor eterno. Mas o eterno pode não ser fiel.

Imagino a cafonice que Léone acharia de ainda discutirmos, em pleno século 21, a legalização da união civil entre pessoas do mesmo sexo.

Se ainda estivéssemos numa cidadezinha do interior da França...

Mesmo assim Léone riria da nossa hipocrisia.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

ADOLESCENTE AMIZADE COLORIDA

Imagem: Google
Livro com sabor de tristeza.
Foi sem dúvida o sentimento predominante na leitura, além de inquietação e indignação.
Não conhecia a autora: Régine Deforges. Um nome pra se guardar e conhecer melhor é claro. Conhecida por sua literatura “erótica”, à primeira impressão pelo menos pra mim não foi de ênfase no erotismo, mas na peculiaridade de uma escrita dinâmica, atraente, pragmática, sem arrodeios, que deixa você extremamente desejosa da próxima linha, da próxima página.
O Diário é de uma menina é roubado. Nele um coração aberto ao silencioso confidente, desenha as cores de uma vivência amorosa de duas adolescentes francesas de uma pequena cidade francesa.
O moralismo é colocado a toda prova naquela cidade, que incrimina uma pós-criança, não pelo seu amor, mas pela exposição das “histórias imundas da cidade”. De fato, sob o álibi repúdio ao “proibido e pecaminoso” amor adolescente, a ira da cidade sobre uma adolescente atraente, provocante, independente e desapegada de amarras sociais, a cidade vocifera, agride, escanteia, tripudia da bela Léone.
O melhor é a descrição da forte personalidade dela. As descrições dos seus momentos de devaneios, de entrega aos prazeres de toda ordem, de sua sensibilidade e entrega ao mundo e à natureza, ao belo, à liberdade.
“A noite no campo exige que o ser humano se integre totalmente à sua movimentação, que é lenta e profunda”
“... em muitas oportunidades, transtornada pelas recordações, tive de interromper o que escrevia para me acariciar”
“Gostaria tanto de poder dizer a minha mãe o quanto estou atemorizada, o quanto preciso dela, que os seus silêncios e os meus me sufocam... sua boa educação impede-a de simplesmente me ouvir discorrer sobre o amor e dizer o que ele significa”
“Somos os mais belos, os mais fortes, os mais generosos, nada resistirá a nós”
“...minhas angústias em relação à morte, meu desejo de Deus, tão constantemente ausente, meu desgosto por não ser amada por meus pais como gostaria e por não amá-los como eu quereria”
“ Não vejo em que nosso amor é mais sujo ou mais nojento que o deles”
“...perfume da água, do carvalho meu amigo, da suavidade do sol sobre minha pele, da água tépida... não, eles são muito fechados em si mesmos para compreender essas coisas banais e simples”
“Ninguém é suficientemente louco ou bastante infeliz para procurar paz de espírito nesta noite chuvosa”
Fragmentos que me fascinaram completamente nessa narrativa atraente e cativante
Pra variar: Vale a pena!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Café no Dalena

Foto: Manuela Lins

O grupo café com leitura reuniu-se no último sábado no Dalena tortas finas para discutir a "polêmica" leitura do livro O diário roubado (Régine Deforges).
A história da pequena Léone comoveu o grupo e rendeu mais uma deliciosa troca de opiniões que durou cerca de quatro horas.
Em breve, as impressões individuais!
Próximo encontro: 20/11/2010
Tema: sociedade
Artigo: África mãe preta do Brasil
Indicacão: Glenda

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ele escrevia a neblina dos dias!

A Mário de Andrade ausente

Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunharam:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.
Sei bem que ela virá
(Pela força persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra.
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue.
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente.
Mas agora não sinto a sua falta.
(É semrpe assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)
Você não morreu: ausentou-se.
Direi: Faz tempo que ele não escreve.
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.
Saberei que não, você ausentou-se. Para outra vida?
A vida é uma só. A sua continua
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua falta.
(Manuel Bandeira)

Foi através desse poema que eu conheci Bandeira e passei a admirá-lo.
Não me dou muito bem com a poesia. Não que eu não goste. Não é isso. Mas eu não sei respirar e isso dificulta a leitura de qualquer texto, especialmente, de poemas porque devem ser lidos em voz alta, pois a sonoridade (a rima) faz parte e é bem relevante na obra.
Lançado o "desafio" dessa leitura, oportunizou-se mais uma chance de conhecer suas obras. Respirei fundo e lá fui eu!
Em o livro A cinza das horas, o autor reuniu poemas sobre horas cinzas de sua infância, de seus amigos, de sua poesia, de seus dias. E daí refletiu-se a cor no livro, nos poemas, nas palavras. Entretanto, o cinza não destrói o colorido da beleza da obra.
A respiração continua ruim, mas na inspiração fez toda diferença.

P.S.:
"Foi por esse amor
Teu corpo é tudo que brilha
É a única ilha no oceano
Do meu desejo

Foi por esse amor
Tão bela flor de laranjeira
Teu corpo é tudo o que cheira"
(Chiclete com Banana)

A semelhança será mera coincidência?rs.




quinta-feira, 4 de novembro de 2010

VIVA, MANUEL BANDEIRA!

A morte é de cada um o norte
Companheira de todas as horas
Porque é impossível prever
Quando de nós se assenhora


Mas será esta tão ruim assim?
Imagine, então, se ela deixasse de existir?
Como seria a nossa vida sem a morte?
Essa verdadeira e fiel consorte


Seria o fim da vida
Seria o fim da morte
Seria a nossa má sorte
Como bem imaginou Saramago


Saudemos a vida
Saudemos a morte
Saudemos a morte dentro da vida
Saudemos a vida e a morte


Embora cause estranhamento
Temos que admitir a necessidade do morrer
Afinal, somos seres pensantes
E não meros cadáveres ambulantes

Mas vamos deixar pra pensar sobre isso depois, né?

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

"O POETA É A PIMENTA DO PLANETA"

Imagem: Google
Pra mim... muito prazeroso (re) ler Bandeira. Velhas recordações do meu tempo de colegial 1
Não sei se se tratava de mera coincidência, ou se era realmente preferência da professora de literatura, mas lembro como ela gostava de analisar os poemas de Manoel Bandeira!
E nesta época de Café com Leitura, tentando também sair da rota do circuito e alternativizar estilos, tentando privilegiar um autor pernambucano... só veio Bandeira na cabeça e quando lembrei da deixa de Adriana, a Calcanhoto... então, não pestanejei: é ele mesmo. E lá foi minha indicação!
Ele fazia versos como quem chorava...
Seu verso era sangue, volúpia ardente, tristeza esparsa, remorso vão, angústia rouca...
Eram versos comovidos...
Ele imaginava que quem os lesse, encontraria nos mesmos uma sombra de beleza...
Era assim que ele falava da própria poesia.
Quanto a mim, ouso falar: A Cinza das horas é um livro gostoso de ler. Poesias ortodoxas, bem trabalhadas metricamente, com variações de construção e sempre com elas: as rimas. Na verdade, não tenho muito contra elas, porque aprecio a ousadia de conseguir dizer o que se dizia, com o capricho das rimas, de maneira metricamente impecáveis.
Bandeira fala da própria escrita, louva Camões, aprecia a natureza (e muito: lua, tardes, horizontes, paisagens...), lembra da infância, da família (mãe, irmã, avô...) fala de amor de paixão, da beleza, de tristeza, de morte, de dor, de alegria...
Senti falta de um olhar mais politizado, mas pra um burguês que era... parece que ele dançava a dança do seu centrismo. É claro que não vou desqualificar a sua poesia por conta disso... é apenas uma constatação. Visto que tenho forte tendência a louvar o que não sei (nem de longe) fazer (tão) bem.
Engraçada uma constatação coletiva: como a leitura do livro é cinza! Vem versos, mudam perspectivas e temas, mas a maioria dos poemas são cinzas. As imagens mentais que vêm, são cinzas... Algum psicólogo pra ajudar? Como é que ele fez isso?
“Tudo que amamos são pedaços vivos do nosso próprio ser”
(A vida assim nos afeiçoa, p.25-26)
1 Ensino médio no meu tempo.

sábado, 23 de outubro de 2010

CAFÉ NO PAÇO REAL RESTAURANTE E CAFÉ

Foto: Aline Marques
Poesia: arte de dizer o óbvio maquiado, de embelezar o dito.
Manoel Bandeira foi tema do final da tarde de 23 de outubro.
O grupo aconchegado nas macias poltronas do Real Restaurante, na Ilha do Leite, saboreando uma pizza quente, trouxe Manoel Bandeira pra roda. Saboreando petiscos simbolistas, ora em recitações, ora em análise, ora em crítica, ora em observações.
As blogueiras viram passar, mas horas coloridas de mais um encontro regado a café.

Próximo encontro: 06/11
Tema: Literatura
Obra: O diário roubado
Indicação: Bárbara

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Renúncia


Chora de manso e no íntimo... Procura
Curtir sem queixa o mal que te crucia:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura. [...]

Versos escritos em 1906, mas que são tão atuais.
A magia da poesia está aí... nos encontrarmos com o passado por sentimentos atemporais!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

[...]

Epígrafe
1917


Sou bem-nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.

(...)

Ardeu em gritos dementes
Na sua paixão sombria...
E dessas horas ardentes
Ficou esta cinza fria.

- Esta pouca cinza fria...



Trecho do livro 'A cinza das horas',
de Manuel Bandeira.
Próxima discussão do Café com Leitura.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sou menino? Sou menina? Sou 'o quê'?!



Segundo sr. Aurélio (2008):

Homossexual: que sente atração por ou tem relações sexuais com indivíduos do mesmo sexo.
Heterossexual: que sente atração por ou mantém relações sexuais com pessoa do sexo oposto.
Transexual: que deseja adquirir ou já adquiriu por meio de cirurgia as características sexuais do sexo oposto.

Caso você não tenha se identificado, fique calmo. Há conceitos e nomenclaturas para todos. Também há ONG´s e diversos ativistas em movimentos trabalhando o ano inteiro em prol da liberdade sexual. Entretanto, ainda há aqueles que insistem em fingir que essa diversidade não existe.
A psicóloga Márcia Arán faz uma retrospectiva histórica de como ocorreu esse processo de mudança na identidade sexual, do ponto de vista psicanalítico, e esclarece-nos sobre questões a respeito dos conceitos que eu citei inicialmente.
Chamou minha atenção a enorme influência da cultura em nossa identidade sexual. Não é à toa que ao perceber-se com um ‘gosto sexual’ diferente dos demais a primeira providência tomada é convencer a si mesmo a redefinir a questão do ‘certo’ ou ‘errado’ para sentir-se ‘incluído’. Fui clara?! Penso que sim.
Arán nos mostra que o gênero pode vir definido no nascimento, a identidade não. E, no entanto, somos moldados o tempo inteiro, desde a cor das nossas roupas, nossos brinquedos, decoração do quarto do bebê, até a ideia fixa de que existe um padrão de identidade sexual definido e arderá no fogo do inferno aquele que não segui-lo.
Analisando o processo de mudança quebramos conceitos, ampliamos nosso horizonte para a questão e percebemos que rotular só vai nos levar a segregação. Basta entender as possibilidades e viver e deixar os outros viverem da melhor maneira possível.

"...Acho que ser ou não se ser viado tá ultrapassado e não me leve a mal..." (Montenegro)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

LIBERDADE É VIVER A VERDADE

Márcia Arán, um nome pra se anotar. A psicóloga e professora é danada. E não é que conseguiu me fazer ficar vidrada no monitor sobre um assunto que não tenho muita propriedade pra falar? Bem... o fato é que a didática da professora é incrível e quem viu o vídeo sabe, ela foi coesa e pragmática. Conseguiu apimentar a teoria, tornando-a digestiva.

Sexualidade contemporânea e novas formas de subjetivação. É esse o tema que a professora se propôs a tratar.

Pra Arán, alguns teóricos elencam alguns efeitos colaterais relacionados à questão da sexualidade como: o apagamento da diferença sexual; a crise do simbólico; e as mudanças da sexualidade como causadores da estruturação da sociedade. No que a professora discorda afirmando que deve-se manter os conceitos de diferenças e pensar os laços sociais entre homossexuais/transexuais/transgêneros, apenas deslocando a noção de diferença da maneira clássica de se pensar o masculino e o feminino.

A proposta de Arán foi tratar de três questões na palestra: 1) Deslocamento do feminino (mudança de lugar da mulher na sociedade); 2) Casamento homossexual; 3) Transgenerismo e transexualidade (construção de si com modificações corporais).

Engraçado é perceber o preconceito tão vivo e real dentro de cada um de nós. E o nome já diz pré-conceito, conceito pré definido, estabelecido. Conceitos elaborados com bases não sólidas, empíricas, concebidas a partir de valores e crenças estritamente pessoais, que embaçam o pensamento lógico e a definição clara e mais próxima do real.

Me chamou a atenção as colocações feitas acerca do casamento homossexual, onde a professora coloca claramente as teorias assustadoras colocadas por alguns teóricos e psicanalistas sobre o assunto, alegando-se que poderia haver, perigo da crise da família; que as referências identitárias masculinas e femininas se apagariam; haveria degeneração da cultura. E a professora desconstrói essas colocações e baseada em pesquisas científicas, afirma que não existe nenhuma diferença na forma como as crianças são criadas, não sendo assim a opção sexual dos pais, importante nesse processo.

Outra questão instigante foi sobre um universo desconhecidíssimo pra mim, sobre os transgêneros, travestis e transexuais. Fui logo ao dicionário e ao Google tentar entender melhor:

• Transexualidade: identidade de gênero diferente do corpo biológico. Desejo de viver e ser aceito como sendo do sexo oposto. Vontade de efetuar a modificação corporal via transição do sexo corporal.
• Transgenerismo: expressão de gênero não corresponde ao papel social e ao gênero do nascimento. Estão em trânsito entre um sexo e outro.
• Travestismo: Ato de travestir-se com roupas do sexo oposto.
- Drag Queen: fantasia-se cômica e exageradamente com o intuito geralmente profissional.
- Transformista: veste roupas usualmente próprias do sexo oposto com intuitos essencialmente artísticos comerciais. Não necessariamente isso interfere na sua orientação sexual.

E sobre o assunto a professora esclareceu, não há existe nenhuma fundamentação psicopatológica pra justificar que a condição ainda esteja incluída no CID 10 como Transtorno de Identidade de gênero, que se refere a incoerência entre sexo e gênero.
A professora então cita Foucoult que diz que o sexo é um sistema de poder e fazer e o gênero é algo que se constrói na tragetória, é o efeito das repetições da criação.

Muito boa pedida, muito bom abrir a mente, muito bom pensar no assunto, descortinar as idéias preconceituosas e consequentemente se alimentar de esclarecimento, de ciência, de verdades que são distantes demais, quando não há a disposição de enxergá-las e tentar se apoderar do saber.

Viva a liberdade de ser!

Viva a diversidade!

Viva o respeito!

Viva o amor!