quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Um divertido papo cabeça no Dalena


O grupo Café com Leitura reuniu-se no último sábado, 25, no Dalena para discutir sobre um tema pouco abordado em rodas de leitura, apesar de muito instigante. A psicopatia é o tema do livro Mentes Perigosas, escrito por Ana Beatriz Barbosa Silva.

A psiquiatra inicia a obra definindo o que é psicopatia e seus diferentes níveis, depois, analisa alguns casos famosos e, por fim, tenta nos orientar como agir em relação a esse tipo de personalidade.

Além do livro, também conversamos sobre o filme 'Precisamos falar sobre o Kevin' - do diretor Lynne Ramsay -, que rendeu boas discussões.

O Dalena possui um cardápio variado, atendimento eficiente e excelente estacionamento. Além de dois ambientes muito agradáveis: um interno, climatizado, e um externo com um jardim muito bonito. A especialidade da casa é em tortas.

Para o próximo encontro: o filme Sentidos do Amor de David Mackenzie. Indicado por Pérola França. Antes, acompanhe nossas observações sobre as duas obras da vez.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A história de Ulisses

A filósofa Márcia Tiburi passou mais de dez anos para entregar o romance Era meu esse rosto à editora. De acordo com a autora, esse livro trata-se de um romance baseado em uma história real que ouviu muito quando era menina. Talvez por isso ela a tenha contado essa história de forma tão especial.
O romance conta a história de Ulisses, um jovem adulto que ao receber uma carta de uma tia, decide voltar a cidade onde viveu durante a infância para resgatar as memórias de sua família.
Tiburi escreveu o romance alternando as lembranças do garoto que viveu em V com suas descobertas na viagem  a V, agora adulto. Leitura complexa e instigante. O jogo narrativo faz a gente ouvir o menino e o homem Ulisses refletindo sobre sua própria história.
Eu não tinha o hábito de ler de escritores contemporâneos, mas Tiburi virou minha autora de cabeceira. Excelente descoberta!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

De quem era esse rosto?

O grupo café com leitura reuniu-se no último sábado,28, no Milla Fiorese cafés preciosos para discutir a viagem de Ulisses em busca de sua identidade familiar.


A filósofa, Márcia Tiburi, em seu recente lançamento, o romance 'Era meu esse rosto', conta a história de uma personagem que, motivado por uma carta, viaja em busca de suas raízes afetivas. A obra foi baseada numa história real que a escritora ouviu quando era criança.

O café possui um cardápio variadíssimo, ambiente aconchegante e atendimento muito especial. Além de deliciosos cafés, a casa serve almoços e vende colares e brincos de pérolas, confeccionados pelo pai da proprietária do café.

Para o próximo encontro: o livro Mentes Perigosas, de Ana Beatriz Barbosa; e o filme Precisamos conversar sobre Kevin, do diretor Lynne Ramsay. 
A indicação foi feita por Albérico Figueiroa.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Veias abertas, corações dilacerados

Não era falácia dos professores de história quando nos diziam que devemos conhecer o passado, para entender o presente e refletir sobre o futuro. Reforçando esse argumento de forma poética e sábia, Galeano nos presenteou com seu livro 'As veias abertas da América Latina'.

Nessa obra, ele nos mostra que os países latino-americanos, mesmo tendo diferentes colonizadores, tiveram suas riquezas utilizadas para um único objetivo: servir as potências. Ele afirma que "Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória alheia, nossa riqueza gerou sempre a nossa pobreza para alimentar a  prosperidade dos outros: os impérios e seus agentes nativos.

Foi nessa onda de submissão e exploração que crescemos e nos tornamos uma nação que eu classificaria como "pobre menina rica". Aqui a miséria e o luxo são vizinhas de bairro. E a nossa riqueza, que ainda vive concentrada, entope as veias e as mentes do povo, abrindo espaço para o desenvolvimento de outros países as custas de sangue e suor.



terça-feira, 24 de julho de 2012

Riquesa e pobresa: faces de um mesmo enredo latino


Exploração insessante da cana de açúcar, do ouro, da prata e de outros metais preciosos; extermínio de civilizações indígenas; tráfico e escravidão genocida de africanos: receita fácil para a impulsão decisiva do desenvolvimento da Holanda, França, Inglaterra e Estados Unidos.

O Brasil e a América Latina teriam "tido o azar" de serem ricos por natureza. A teórica "falta de sorte" do solo norte-americano, se converteu em aliado que permitiu que seus colonos, diante da improdutividade das terras recém-descobertas, um pouco mais a frente, dessem "carta branca" para que a "pobre terra estadunidense" pudesse tentar avançar a construção de sua nação através da industrialização.

O mesmo destino não teriam as terras latinas, que ricas em metais e com solo fértil só precisariam de mão de obra barata para ser explorada até o último ceitil. Desde a prata de Potosi até o ouro de Minas Gerais, as terras latina americanas financiaram o crescimento de diversos países europeus, em especial Holanda, França e Inglaterra.

Espanha e Portugal, teriam sido meras pontes do desenvolvimento dessas nações. Exlorando as terras recém-descobertas, para quase apenas, pagarem dívidas com tais países. Não chegando nunca a usufruir de fato, do produto do estrago/expoliação histórica que causaram aos países nascituros americanos.

Somente com ele, Galeano, visualizo essa possibilidade ousada de escrita. Trazer a história pro papel, de maneira leve e com sua linguagem característica. Com a propriedade e a ousadia de quem é um profundo conhecedor das mazelas da zona latina do novo continente.

Galeano além de um incansável estudioso, é um profundo apaixonado pela sua terra e um entuasta da idéia da Grande Pátria Latino Americana. Trás com entusiasmo histórias dos grandes nomes que sonharam na libertação real do nosso continente, dos grandes nomes Tupac Amaru, Juan Velasco Alvarado, José Morelos, José Artigas, Augusto Cesar Sandino, Emiliano Zapata, Simon Bolivar entre outros. Faz avaliação de conjuntura e arrisca prognósticos ousados pro futuro.

Apesar de muitas informações de As veias abertas da América Latina, já estarem superadas, o livro é rico demais. Um puxão de orelhas, um pisca alerta pra reflexão acerca da realidade. Um convite à saída do marasmo aceitacional no qual aparentemente estamos mergulhados.

Discutir a realidade atual, olhando pro umbigo e meramente pra conjuntura atual, é cair no perigoso caminho do convencimento fácil que o discurso liberal trás pra quem quiser caminho fácil.

Galeano propõe avaliar o verdadeiro "buraco" dos fatos, donde tudo nasceu. Propõe que diante do que temos vivenciado, como produto do atual sistema de produção e de relações sociais e internacionais, que consigamos, ainda em tempo, ter clareza de que nós vivenciamos em nosso dia a dia, apenas um mero desdobramento da expoliação sofrida no passado enquanto nação. Expoliação essa que serve hoje para que sociedades ricas possam usufruir através do "estado de bem estar social".

Galeano acredita na construção da Grande Pátria e na verdadeira libertação da América Latina.

As veias abertas da América Latina é um livro pra ser lido e pensado por todos os povos latino-americanos.

domingo, 1 de julho de 2012

Dissecando as veias com Galeano, no Café Jaqueira

No sábado 30 de junho, o CCL se reuniu novamente para mais uma missão. Dessa vez quem estava em pauta era o autor uruguaio Eduardo Galeano e o título escolhido foi “As veias abertas da América Latina”.

O local escolhido para discussão foi o Café Jaqueira que recebeu Ana Carla, Glenda Carla e Martha Perusi, para discussão do título. O encontro contou ainda com a participação de Albérico Figueiroa, Kleison Lima, Manuela Duque, Pérola França e Viviane Lima. A ocasião foi especial por contar com a oficialização dos novos membros efetivos do CCL. A partir do próximo encontro, Albérico Figueiroa e Pérola França se somarão às demais membros do grupo.

Em clima descontraído o livro foi analisado e o tema foi amplamente discutido por todos os presentes, que contextualizando com a realidade atual, puderam fazer analogias e reflexões acerca da situação atual de desenvolvimento do continente americano, fazendo uma avaliação dos motivos causais de tanta desigualdade entre o novo e o velho mundo, assim como o norte e o sul da América.

Na sequência, teremos as impressões sobre o livro.

Próximo encontro: 28/07/2012
Horário: 16 horas
Título: Era meu esse rosto de Márcia Tíburi

quarta-feira, 27 de junho de 2012

A arte da manutenção de si mesmo



O romance de é daqueles para ir lendo aos poucos, interpretando, nem que você passe uma hora lendo  duas páginas. Porque é um livro que nos convida a pensar. Às vezes, dá vontade de desistir, mas quando nos permitimos, terminamos a leitura com o pensamento modificado e isso não tem preço. Vale a pena se debruçar sobre o livro e refletir sobre nossa própria manutenção.

"Todos nós somos muito arrogantes e presunçosos na hora de desmistificar os fantasmas dos outros, mas somos tão ignorantes, bárbaros e supersticiosos quanto eles em relação aos nossos próprios fantasmas."p.35

"-Na realidade, a paz de espírito não é uma coisa superficial de modo algum - começo o discurso. Ela é tudo. O que a produz é a boa manutenção; o que a perturba é a manutenção deficiente."p.163

"A ansiedade, uma armadilha que resulta do excesso de motivação, pode produzir todo tipo de erros devidos ao cuidado excessivo. Você conserta o que não precisa de conserto e sai em busca de males imaginágios."p.318



sexta-feira, 22 de junho de 2012

Filosofia e arte numa narrativa profunda

A wikipédia diz que Robert Maynard Pirsig é um escritor e filósofo e que foi uma criança super dotada, com QI de 170 aos 9 anos.

Eu depois de ler "Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas" realmente não duvido. Um livro realmente muito bom, que trata de questões sobre a forma como vivemos, sobre como conseguir equilíbrio na dinâmica complexa de nossa existência no mundo atual. O livro tem o detalhe da ousadia do autor, que me lembrando "O mundo de Sofia", fez um livro de filosofia utilizando-se da técnica da narrativa, muitíssimo bem construída e amarradinha.
A história trata da narrativa de Robert, que de férias com seu filho Chris, parte em uma viagem de motocicleta na companhia dos amigos Sylvia e Jonh. Na viagem, nós, os leitores, seguimos na garupa dos pensamentos do narrador pelas estradas, passeando por temáticas do cotidiano, arte, humanismo, religião, filosofia, educação, manutenção de motocicletas bailando sutilmente ainda com as idéias filosóficas de Kant, Hegel e Poincaré, entre outros.
Em uma confortável posição, nós os leitores passeamos com Robert pela sua mente, enquanto ele refaz a trajetória de sua vida e de seu relacionamento com a figura de Fedro. Na verdade acho mais adequado tratar de "a personalidade Fedro". O autor nas suas divagações organizadas a partir do que ele chama chautauquas (séries de palestras que visavam edificar, divertir, aprimorar o raciocínio e fornecer cultura e informação ao espectador”) pauta e organiza o desenrolar do livro, que tem um final que me fez arrepiar.
Me lembrando de uma certa amiga (ex, futura, atual membro do Café com leitura) e ainda bem impactada pela leitura de Zen, já com vontade de ler agora “Lila – uma Investigação Sobre a Moral”.


(Desculpem pelo excesso, mas foi meio irresistível não postar essas fotos. Me senti ainda mais dentro do livro...)

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Zen na Dona Brigadeiro

O grupo Café com Leitura se encontrou na Dona Brigadeiro às 15h do dia 26/05/12. O lugar estava movimentadíssimo e estiveram presentes Renata, Ana Carla, Glenda, Martha, Palloma, Kleison e Viviane.

O livro que discutimos foi "Zen e a arte da manutenção de Motocicletas", de Robert Pirsig, indicado por Martha.

Uma grata surpresa esperava o grupo. Tratava-se da nova edição do livro, publicada por outra editora, acrescida de uma introdução do próprio Robert Pirsig e de algumas das cartas trocadas entre ele e seu editor.

Leiam as apreciações dos participantes do blog!

Próximo encontro: 30/06/12
Leitura: As veias abertas da América Latina de Eduardo Galeano
Indicação: Ana Carla

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Personagem padrão!


O livro A segunda vez que te conheci conta a história de Raul, um jornalista viciado em trabalho e casado com Ariela. Certo dia, sabe-se lá Deus porquê, ela resolveu deixa-lo. Mas não é preciso muito esforço para entendê-la.

Após a fim do casamento, ele começou a namorar a melhor amiga de sua ex-mulher, uma moça chamada Fabi. Em pouco tempo, Fabi mudou-se para o apartamento de Raul. E, certa noite, após chegarem de uma sessão de cinema, ela o informou que ia embora. E pela segunda vez ele sente o agridoce* da separação.

Com duas separações e uma demissão no currículo, Raul mudou-se para um flat de um amigo e passou a agenciar prostitutas. Tornou-se um verdadeiro especialista em comércio sexual. E quando Ariela o reencontrou, ele já não era mais o mesmo. Acredito que nem ele sabia mais quem se tornara.

O autor foi feliz na escolha do título, ele desperta curiosidade, faz a narrativa parecer densa, mas achei a história de Raul é profundamente rasa. Surpreenderia mais se não houvesse um caráter tão “comum” a quase toda humanidade.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Quando não consigo ser contaminada


Uma expressão que me vem a mente como representativa do meu entusiasmo com a leitura de algo é a palavra "contaminação". Antes de iniciar a leitura do livro, confesso, estive bem motivada pro início das leituras. O nome de Marcelo Rubens Paiva já era conhecido. E o título, concordando com o texto anterior era, de fato, bem atraente, contudo a leitura de "A segunda vez que te conheci", se mostrou bastante maçante.

A cada passagem de página, a cada chegada a um novo capítulo ressurgia em mim uma nova esperança de que as coisas avançassem rumo a minha expectativa. Fato que, chegado à última página, não conteceu.

A impressão que me deu foi a de falta de um mínimo de humildade do autor. A história flui, mas a impressão é a de que o autor tem uma preocupação contínua e maior que a obra. É uma preocupação que subjaz nas entrelinhas.

Tentei ter o cuidado de fazer com que a minha antipatia pelo protagonista, desde o início da leitura, não fosse transferida ao conjunto da obra, mas o fato objetivo, é que isso foi se tornando complicado, à medida que eu avançava na leitura.

Marcelo não deixava de aparecer. Acho que o escritor acaba se denunciando. Na verdade não sei se tem como se desnudar de si completamente, mesmo em obras teoricamente ficcionais.

Em suma, não consegui ser contaminada pelo livro que, a propósito, não indicaria. Mas tô com disposição para ler, mais pra frente, outros títulos do autor. Quem sabe não sai a má impressão.

terça-feira, 15 de maio de 2012

por trás de um bom título...

O livro do Marcelo Rubens Paiva, intitulado A Segunda Vez que te Conheci, foi a minha terceira experiência de leitura desse rapaz. Ainda na adolescência, li o primeiro que ele escreveu: Feliz Ano Velho, relato assumidamente autobiográfico cujo mote é o acidente que sofreu ao dar um mergulho mal calculado que o levou a uma cadeira de rodas. Este parece um bom relato juvenil de uma época, os anos 80 e suas inquietudes: MRB relata, como um filho de deputado de esquerda, as inquietações de um jovem estudante da Unicamp que tenta militar politicamente (sob o fantasma do pai preso pelos militares e que jamais retorna) em um país ainda sob o flagelo de uma ditadura militar.

Já se percebe no livro certa imaturidade na escrita de Marcelo e os lampejos de sua autoindulgência travestida de suposta ironia, mas que desvelam o machismo e a acidez do moço. O que soa ao leitor como "honestidade" do relato parece vir da condição de solidariedade ao flagelo sofrido por um jovem em fase universitária, ainda eivado dos idealismos dessa fase da vida, e de certa aura da própria cultura pop que figura como pano de fundo ao texto.

A segunda leitura foi de Bala na Agulha, que me pareceu inócua:  mote forçado e cheio de clichês do brasileiro que vai viver nos Estados Unidos e torna-se traficante. E, enfim, chegamos ao romance A Segunda Vez que te Conheci. Desses dois últimos, a leitura me soou cheia de clichês, sem densidade alguma e, também, sem a leveza (uma possível contrapartida) que também representaria bom motivo para a literatura. Parece que, para MRB, a marginalidade é o clichê indispensável para seus personagens, que precisam ser traficantes, cafetões, assassinos ou putas... Mas parecem apenas, psicologicamente e do ponto de vista da trama, profundos como um píres.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

A segunda vez...

"Ex-marido é como um banheiro velho. Ela quer homens sem vícios, ferrugens e vazamentos. Como não entende de encanamentos, abandona."


Trecho de 'A segunda vez que te conheci',
do Marcelo Rubens Paiva

domingo, 6 de maio de 2012

Café, almoço e leitura no Pátio

O Café com Leitura realizou seu terceiro encontro do ano no ambiente aconchegante e requintado do restaurante 'O Pátio - Café & Cozinha'. A discussão, acontecida em 29/04, contou com a participação de Renata, Ana Carla, Glenda, Martha e Lila..

O romance discutido foi "A segunda vez que te conheci" do escritor e dramaturgo Marcelo Rubens Paiva. O livro, indicado por Lila, trata de uma personagem que após o término de seu segundo casamento, vai morar num flat e no prédio conhece uma prostituta chamada Karla. Quando percebe, está gerenciando a vida de dezenas de garotas de programa e ao reencontrar com sua primeira ex-mulher, ele não é mais o mesmo.  Na sequência, o grupo elencará suas impressões sobre a obra!


Próximo encontro: sábado, 26/05, às 17h.
Livro: Zen e arte da manutenção de motocicletas - Robert M. Pirsig


segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ser livre é transgredir!



“Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres. Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito.” (Maharal de Praga)

Meu primeiro grifo. Sempre questionei essa liberdade e Bonder me esclareceu com maestria. Ela vive dentro de nós. Somos almas vestidas de desobediência. Almas inquietas, transgressoras, livres. A imoralidade da alma consiste em movimentar o corpo, que é por natureza, acomodado.


O corpo enquadra-se nas tradições e a alma busca traí-las para podermos transcender.  E transcendendo, evoluímos. Embora pareça um processo difícil, e de fato é, a parte mais complicada é firmar a transgressão e permitir ou possibilitar a transgressão dos que estão ao nosso redor.
Na transgressão, de acordo com Bonder, marcamos um novo segmento de nossas histórias individuais e coletivas. Quando nos esquivamos de transgredir, comprometemos nossa qualidade de vida e a possibilidade de continuidade de toda sociedade.  Quando tomarmos consciência da importância das inúmeras possibilidades da transgressão, transformaremos os mundos.
E para os momentos de miopia, ele me deixou esta frase:

“...a vida saberá nos julgar não apenas pelas perversidades que acreditamos poder evitar, mas também pelas tolices que nos permitimos.”

Reflitamos!

P.S.: Em breve postarei uma imagem.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O olhar da alma...

"Há um olhar que desnuda, que não hesita em afirmar 
que existem fidelidades perversas e traições de grande lealdade. 
Este olhar é o da alma. "

Não precisava de mais. Com o trecho acima, 'A alma imoral' do Nilton Bonder já havia me conquistado. Contudo, bastou continuar a leitura para descobrir que o livro é mais. Muito mais. Um convite à reflexão sobre, por exemplo, o que é 'certo' e 'errado'. Um chamado para sermos nós mesmos, honestos e livres. Enfim, um livro que vale muito mais a pena ser lido que eu poderia descrever.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Um convite à auto-sinceridade


A proximidade maior da imoralidade que nos é permitida: estarmos executando nossas mais profundas ordens.”
A princípio, uma leitura atípica, complexa, densa, que em sua natural condução nos leva ao nosso encontro. Inquietante a cada página.
Repudiar com veemência todo tipo de ação ou comportamento limitante que vá de encontro com a nossa verdade maior, com o nosso EU verdadeiro, nossa essência. É assim que Bonder vai caminhando na construção do significado de imoralidade e de alma.
Alma no sentido de “... nada mais do que o componente consciente da necessidade de evolução, a parcela de nós capaz de romper com os padrões e com a moral”. Para Bonder é a alma a nossa essência, o que somos verdadeiramente e seria ela a quem deveríamos atender em sua completude. Porque é ela quem nos leva pra adiante, quem quer nos levar ao nosso melhor, à verdade. É ela quem nos leva mais próximos de sermos mais felizes. E imoral seria tudo que externo à nossa alma, logo também à nossa essência, nos distancia da nossa felicidade, da nossa verdade.
Bonder incansavelmente destrincha sua admiração pela transgressão. Transgressão em seu melhor sentido, o de se aproximar e encontrar a si, indo em sentido oposto às regras, imposições, normas e a tudo mais que nos tenha sido posto dogmaticamente, e que sendo assim, nos limite e aprisione por toda uma vida.
Em suma, um convite à espontaneidade.
Tá recomendado!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Quando a margem é via mestra...

A escolha radical de transgredir, para manter-se fiel a si: eis o convite que nos faz Bonder, em seu livro. Irmanar-nos ao maior dos marginais, o Cristo, que se acompanhou de prostitutas, ladrões, leprosos... para tocar a viva carne da vida, para ser coerente com sua alma, para manter não apenas o conservador corpo (que só quer o imediato bem-estar)...

É assim, desconstruindo verdades que parecem cristalizadas a um olhar pouco arguto e anestesiado, que o rabino Bonder traça seu percurso de descontruir verdades estabelecidas e desautomatizar as percepções, incitando-nos a um exame de desnudar entranhas além da derme e, fatalmente, somos conduzidos à escolha pela via marginal.

E por esta via reconhecemos as opções de outros mestres, por isso foram invocados Lao Tsé e Guimarães Rosa: reconhecida a filiação à linhagem dos permanentes transgressores que assim o fazem para permanecerem honestos consigo mesmos...

assim seja. maktub. oxalá. evoé. oito deitado.

domingo, 1 de abril de 2012

"A alma imoral" no Amoretto

Foi no ambiente clean do Amoretto Coke Shop que nos reunimos ontem, 31/03, para o segundo encontro do Café com Leitura em 2012.


O livro 'A alma imoral' do Nilton Bonder foi o alvo da discussão, mas  Guimarães Rosa e Lao Tsé também entraram na roda. E entre provocações e identificações as horas passaram rapidamente por nós.

Ainda tivemos a participação especial da Martha Perrusi, que aceitou o convite e estará conosco nos próximos encontros. Além de Martha, também participaram da discussão Renata, Ana Carla, Glenda, Lila e Anna Flávia.


Nos dias que virão publicaremos nossos textos sobre a obra. 
 
Próximo encontro: Domingo*, 29/04, às 12h.
Livro: A segunda vez que te conheci, Marcelo Rubens Paiva.
 
 
*Nos próximos dois meses os encontros acontecerão, excepcionalmente, aos domingos.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Falta não significa ausência

O livro estava na minha estante há pelo menos três anos. Quando minha amiga me entregou, disse apenas: leia, você vai gostar. Protelei o quanto pude porque, na verdade, não botei fé no que ela falou. Folheei e joguei-o para o fim da fila.
Com a indicação para o café, pude, finalmente, constatar as palavras dela. Eu não só gostei da história, como me identifiquei com o protagonista em algumas situações.
Por que nossas reações devem ser convencionadas? Por que temos que chorar em determinados momentos e sorrir em outros? Existe lei que nos obrigue a sermos iguais?
Meursault era uma cara que só queria viver e pronto. Não almejava nada além disso. E, de fato, a vida não precisa tornar-se  essa guerra de ação e reação na velocidade da luz que a sociedade nos exige. Que tal dançarmos uma valsa  e não um rock?!
Você pode colocar sua mãe num asilo. Você pode não chorar no enterro dela. Você pode não ser apegado ao trabalho, as pessoas, ao dinheiro. Você pode ser estranho!Cada um tem um tempo, uma vontade e uma forma de expressar, caso queira ou não. E quando a falta de vontade é tão natural dá gosto.
Meursalt pode significar, para alguns, a frieza em pessoa, para mim, ele foi ele, simplesmente. Não havia uma preocupação em ser algo ou alguém. Havia apenas ele e o tempo. Este passando e aquele distraindo-se enquanto isso ocorria. Desse modo, reagindo apenas ao presente, quando inevitável (porque se pudesse evitar, faria), ele foi preso julgado e condenado a morte.
Nesse período entre a prisão e a condenação fiquei na expectativa (na minha lesa visão hollywoodiana das histórias) de uma possível mudança brusca de comportamento, afinal, sua vida estava em jogo. Mas ele foi, surpreendentemente, ainda mais estrangeiro, ainda mais livre. Era um cara muito consciente, mas não sentia obrigação de dividir.

terça-feira, 6 de março de 2012

O estrangeiro e a frieza de sentimentos

Quando iniciei a leitura, diante da frieza de sentimentos, pensei que se trataria de descrição de um personagem com algum transtorno de personalidade ou patologia psíquica. Mas não. O personagem, ao meu ver, é uma caricatura das ideias existencialistas.

Em forma de romance o autor retratou duas fortes ideias existencialistas: o viver somente o presente de cada dia e “ser condenado a morrer”. O estar diante da morte é a principal fonte de angustia e mal estar das pessoas, somente ao se aceitar esta "condenação" é possível se viver mais plenamente e em "paz". 

Lembrei muito do filme Melancolia.

Carla Zambaldi

domingo, 4 de março de 2012

Estrangeiro... para quem?

Um ser sem paixão. Sem paixão pelo momento, pelas coisas, pela pessoa, pela vida. Tudo transcorre sem a menor vontade, sem o menor ímpeto, nem desejo. “Hum Hum. Tá certo” “Hum Hum. Tá certo”, é o que imagino que Mersault mais diria se fosse um de nós, hoje em dia.

Não ter as reações esperadas diante das situações foi o seu crime. Ele não correspondeu às expectativas morais do outro, da outra, da sociedade, de ninguém. A condenação talvez tenha sido a sua libertação.

Para quantos não seria?

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Longe de lá

Na Argélia o protagonista Mersault recebe um telegrama, com o comunicando do falecimento de sua mãe, que então morava em um asilo. Ele comparece ao funeral, entretanto sem expressar nenhuma emoção digna de nota, não chega a se comover pelo falecimento de sua genitora.

Na seqüência do romance o que se passa é uma narração de sua vida: sua amizade com um dos seus vizinhos, Raymond Sintès; seu namoro com Marie, uma antiga colega de trabalho; seu cotidiano no trabalho; suas atividades de lazer... sempre com uma aparente marasmática tonalidade deja vu, na narrativa que é feita sempre feita em primeira pessoa.

Um dia, após uma confusão em que seu vizinho Raymond sai ferido, em um uma fração de minuto rapidamente confundido pela luz e calor do sol forte, Meursault se equivoca na leitura de um possível risco que corre, e mata um árabe, que havia ferido o amigo anteriormente.

O restante da trama trata da prisão e julgamento de Meursault, que entre suas peculiares lembranças de sua vida pregressa e sua adaptação à nova realidade na prisão, nos leva a uma viagem acerca de sua aparente apatia perante à vida.

O julgamento é marcado pelo equívoco. O protagonista praticamente não é julgado pelo crime. A tese da acusação é sustentada insistentemente pela ausência de emoção de Mersault quando da morte da mãe. É a defesa de um modo padrão de ações/emoções esperadas. O objeto do julgamento perde o motivo de ser. Mersault é enfim condenado.

Um incômodo paulatinamente me acometeu durante a leitura ao lidar com a indiferença contínua do protagonista. Que aparentemente em nada se afeta diante dos fatos da vida. Em poucas passagens do livro, algo próximo de emoção é posta. No mais a narrativa é fria. O que aquece o leitor (meu caso), exatamente é a inquietação própria da abstinência viciosa de quem em muito ainda está contaminada pela dinâmica hollywoodiana e fica na espera de uma reviravoltas em um romance que já estava posto, de uma emoção que já existia desde sempre.

Era como se para Meursault, se sujeitar a qualquer regra social fosse um sacrifício que não valesse a pena. Era como se o seu viver tivesse um valor diferente. Em alguns momentos era como se ele fosse um estrangeiro, vendo a si próprio, de fora, diante do desenrolar de sua própria vida, longe de lá...

O livro é a mais famosa obra do autor. Instigante... deu vontade de ler os demais!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Como para si mesmo, estrangeiro...

O homem que apenas vive, sem muito contestar. Como se estar vivo fosse bastante; afinal, a vida traz em si, aleatória e involuntariamente, todos os absurdos com os quais já temos de lidar. Enredado numa trama banal: numa relação amorosa que o satisfaz, mas sem grandes arroubos; num emprego qualquer que o mantém, mas não o estimula (porque ele mesmo parece nem crer em maiores estímulos de outra ordem); com amigos que o acaso lhe põe no caminho, em relações de superfície, o protagonista é um argelino comum. Tem a mãe em um asilo, a quem nem visita mais. Vai vê-la morta, mas de que adianta olhar para o cadáver? (Eu mesma não olho os "meus" mortos no esquife, prefiro lembrar-lhes o semblante vivo). O pecado moral de Mersault é não derramar lágrimas no enterro de sua genitora. E, quando as casualidades lhe põem o sol ofuscando a vista, combinado à fatalidade de estar com uma arma em punho, em frente a um árabe com quem já havia protagonizado uma disputa (na qual fora apenas acompanhante do amigo, real pivô da desavença), o dedo aciona o gatilho, como ato condicionado a todo o cenário e instrumentos em ação.
Resultado: o julgamento falso moralista de sua suposta desumanidade e a condenação à morte.
Todo o tempo, desconhecendo as versões de si apresentadas, resigna-se (mas com laivos de revolta passiva) à estranheza de ser, humano.

(Nota à margem de O Estrangeiro, Albert Camus)
(Renata Pimentel)

domingo, 26 de fevereiro de 2012

O retorno do Café com Leitura no Porteño!

Nove meses após a pausa, enfim, voltamos a nos reunir em um Café da cidade para um encontro do nosso prazeroso grupo de leitura.
Café Porteño - 25/02.

Para o início dessa segunda temporada, trouxemos 'O estrangeiro' de Albert Camus para conversar com a gente. E não poderíamos ter começado em melhor companhia. Camus nos envolve em seu absurdo habitual e nos apresenta Mersault, personagem central da trama e dono de um indiferença nada comum em relação a situações extremas.

Glenda, Ana Carla, Renata, Viviane e Anna Flávia participaram da reunião que aconteceu no Café Porteño, um de nossos locais preferidos da temporada passada. Na ausência de Hebert, dono da indicação, Renata fez as honras de abertura.

Nos próximos dias, entre um cafezinho e outro, apresentaremos nossas impressões, e as dos demais membros, sobre a obra.


Próximo encontro: Sábado, 31/03, às 16h.
Livro: A alma imoral, Nilton Bonder.