O livro do Marcelo Rubens Paiva, intitulado A Segunda Vez que te Conheci, foi a minha terceira experiência de leitura desse rapaz. Ainda na adolescência, li o primeiro que ele escreveu: Feliz Ano Velho, relato assumidamente autobiográfico cujo mote é o acidente que sofreu ao dar um mergulho mal calculado que o levou a uma cadeira de rodas. Este parece um bom relato juvenil de uma época, os anos 80 e suas inquietudes: MRB relata, como um filho de deputado de esquerda, as inquietações de um jovem estudante da Unicamp que tenta militar politicamente (sob o fantasma do pai preso pelos militares e que jamais retorna) em um país ainda sob o flagelo de uma ditadura militar.
Já se percebe no livro certa imaturidade na escrita de Marcelo e os lampejos de sua autoindulgência travestida de suposta ironia, mas que desvelam o machismo e a acidez do moço. O que soa ao leitor como "honestidade" do relato parece vir da condição de solidariedade ao flagelo sofrido por um jovem em fase universitária, ainda eivado dos idealismos dessa fase da vida, e de certa aura da própria cultura pop que figura como pano de fundo ao texto.
A segunda leitura foi de Bala na Agulha, que me pareceu inócua: mote forçado e cheio de clichês do brasileiro que vai viver nos Estados Unidos e torna-se traficante. E, enfim, chegamos ao romance A Segunda Vez que te Conheci. Desses dois últimos, a leitura me soou cheia de clichês, sem densidade alguma e, também, sem a leveza (uma possível contrapartida) que também representaria bom motivo para a literatura. Parece que, para MRB, a marginalidade é o clichê indispensável para seus personagens, que precisam ser traficantes, cafetões, assassinos ou putas... Mas parecem apenas, psicologicamente e do ponto de vista da trama, profundos como um píres.
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