Exploração insessante da cana de açúcar, do ouro, da prata e de outros metais preciosos; extermínio de civilizações indígenas; tráfico e escravidão genocida de africanos: receita fácil para a impulsão decisiva do desenvolvimento da Holanda, França, Inglaterra e Estados Unidos.
O Brasil e a América Latina teriam "tido o azar" de serem ricos por natureza. A teórica "falta de sorte" do solo norte-americano, se converteu em aliado que permitiu que seus colonos, diante da improdutividade das terras recém-descobertas, um pouco mais a frente, dessem "carta branca" para que a "pobre terra estadunidense" pudesse tentar avançar a construção de sua nação através da industrialização.
O mesmo destino não teriam as terras latinas, que ricas em metais e com solo fértil só precisariam de mão de obra barata para ser explorada até o último ceitil. Desde a prata de Potosi até o ouro de Minas Gerais, as terras latina americanas financiaram o crescimento de diversos países europeus, em especial Holanda, França e Inglaterra.
Espanha e Portugal, teriam sido meras pontes do desenvolvimento dessas nações. Exlorando as terras recém-descobertas, para quase apenas, pagarem dívidas com tais países. Não chegando nunca a usufruir de fato, do produto do estrago/expoliação histórica que causaram aos países nascituros americanos.
Somente com ele, Galeano, visualizo essa possibilidade ousada de escrita. Trazer a história pro papel, de maneira leve e com sua linguagem característica. Com a propriedade e a ousadia de quem é um profundo conhecedor das mazelas da zona latina do novo continente.
Galeano além de um incansável estudioso, é um profundo apaixonado pela sua terra e um entuasta da idéia da Grande Pátria Latino Americana. Trás com entusiasmo histórias dos grandes nomes que sonharam na libertação real do nosso continente, dos grandes nomes Tupac Amaru, Juan Velasco Alvarado, José Morelos, José Artigas, Augusto Cesar Sandino, Emiliano Zapata, Simon Bolivar entre outros. Faz avaliação de conjuntura e arrisca prognósticos ousados pro futuro.
Apesar de muitas informações de As veias abertas da América Latina, já estarem superadas, o livro é rico demais. Um puxão de orelhas, um pisca alerta pra reflexão acerca da realidade. Um convite à saída do marasmo aceitacional no qual aparentemente estamos mergulhados.
Discutir a realidade atual, olhando pro umbigo e meramente pra conjuntura atual, é cair no perigoso caminho do convencimento fácil que o discurso liberal trás pra quem quiser caminho fácil.
Galeano propõe avaliar o verdadeiro "buraco" dos fatos, donde tudo nasceu. Propõe que diante do que temos vivenciado, como produto do atual sistema de produção e de relações sociais e internacionais, que consigamos, ainda em tempo, ter clareza de que nós vivenciamos em nosso dia a dia, apenas um mero desdobramento da expoliação sofrida no passado enquanto nação. Expoliação essa que serve hoje para que sociedades ricas possam usufruir através do "estado de bem estar social".
Galeano acredita na construção da Grande Pátria e na verdadeira libertação da América Latina.
As veias abertas da América Latina é um livro pra ser lido e pensado por todos os povos latino-americanos.