quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

"Todo ponto de vista é a vista de um ponto" [L.Boff]


Se eu encontrasse o livro solto em uma livraria ou biblioteca, não leria.
Mas se uma amiga super entusiasmada com a trama me indica, eu leio.
Se me apegasse a edição, a revisão, a técnica, desistiria nos primeiros parágrafos.
Porém, se me apego ao tema, ignoro todo o resto.
Se o comparasse aos clássicos literários, nem insistiria.
Entretanto se distâncio o preconceito inato, leio como quem acompanha novela.
Se crio expectativas, me frusto.
No entanto, se deixo-me seduzir pela criatividade da autora, me delicio.
Para cada justificativa que quiser usar para ler, assistir, ouvir ou criar uma obra, encontrarei argumentos.
Creio que essa não é a proposta da arte. Não só da arte, mas também daquilo que passa longe de sê-la. As criaçõess devem ser vividas, experimentadas e ponto. Até para criticar é preciso conhecer, não é mesmo? É digno dizer que gosto ou não gosto de algo, mas daí a dizer se serve ou não serve é outra história. Mas não pretendo seguir esse caminho rumo à filosofia.
O fato é que o romance entre Duda, Gaby e Samantha é quente e instigante. Até o ser mais preguiçoso ler em menos de uma semana. Não só por tratar-se de um romance entre mulheres, mas também pela criatividade contida na história.  E isso torna a homossexualidade apenas um detalhe, diante de dramas bem mais relevantes vividos pelas personagens. Dramas que não são privilégios dos homossexuais vivê-los, afinal, qualquer ser vivo, exceto os vegetais, está suscetível ao amor e/ou à ausência dele.
Então, durante a fase de 'Aquele dia junto ao mar', ficou a reflexão: Se a cada passo dado eu pensar no que o outro irá pensar a respeito, eu estagno.
Contudo se sou fiel aos princípios que eu reproduzo em bom tom, vida a fora, eu publico, leio, comento e recomendo.
Desprenda-se e aproveite!  

5 comentários:

Rosimere Silva disse...

Você sempre surpreendendo!Os seus argumentos são instigante. Se vou ler o livro não sei, já as suas postagens, com certeza.

Anna Flávia disse...

Exato, Glenda! Muito bom! :)

Leusa Santos disse...

Gostei! Só acho que o estilo literário da autora é esse de linguagem direta, sem meandros maiores de técnicas literárias. Mas isso não o diminui em relação a outras obras. É apenas um estilo.

Ana disse...

É isso aí Csri. Desprender-se acho que deve ser uma pedida pra todas nós que fazemos o CCL. O preconceito não ajudará. Fazer leituras de leituras diversas vai ser o melhor desafio pra gente.

karina disse...

Oie, Glenda!

Senti um tom poético nas suas palavras e, confesso, me emocionei com as suas impressões. Você teceu comentários sinceros e coerentes.

Gosta de Bossa Nova? Imagine um tempo, em que as vozes dionisíacas do rádio eram paradigmas de um bom profissional da música. Imaginou? Pois é! Naquela época, papo de bar, falar ao pé do ouvido, sussurrar palavras de amor com uma voz pequena, tímida e coloquial – peculiaridades do novo estilo que surgia no final da década de 50 -, não era lá grande coisa.

As pessoas tendem a rejeitar o novo, mas você foi extremamente feliz em dizer que não podemos atribuir o bom, ou o ruim, a algo que desconhecemos. Isso, acima de tudo, é honestidade, diga-se de passagem, uma das qualidades que mais aprecio em alguém.

Ah, não! Não tenho a pretensão de comparar a minha literatura com a Bossa Nova, foi uma simples ilustração para dizer que a academia me detesta. Rs – vale lembrar que a engessada academia rejeitou por três vezes, Oswald de Andrade. O discurso utilizado pela nobre academia foi que o cara não era acadêmico. E pasme! Hoje, a danada estuda Oswald de Andrade. RS (Não chego aos pés dele, foi só um exemplo para justificar o quanto acho a academia... hummm... deixe-me pensar. Não, é melhor não dizer. Meu mestrado corre risco. Rs) -, assim como rejeita tudo o que é novo.

Mas tenho que concordar e defender claro, que o começo é sempre cheio de pedras, e são pedras o fato de que a revisão do livro não é das melhores e a técnica da escrita é simples (papo de bar, falar ao pé do ouvido, sussurrar palavras de amor com uma voz pequena, tímida e coloquial), contudo, porém, entretanto. RS... A editora é a primeira da América Latina voltada a publicação “somente” das histórias de mulheres que amam outras mulheres. E, como todo começo é difícil, ler as suas impressões, faz com que eu tenha a esperança de que as pessoas, por mais exigentes que sejam – e não deve ser diferente -, conseguem viver a poesia e apreciam algo, mais com o coração do que com a razão.

O recado mais forte que eu deixo no livro é que mulheres que amam outras mulheres podem viver uma vida completamente “normal”, simples assim.

Milhões de reverências a ti, querida Glenda.

Com carinho

Karina Dias