quarta-feira, 13 de março de 2013

O amor de Georges por Anne


Voltar ao CCL com “Amor” foi muito bom!

Pra iniciar, na parte pragmática da montagem do texto, como subsídio, decidi auto provocar-me buscando o significado teórico da palavra amor. Donde da busca após alguns risos (da definição: tendência ou instinto que aproxima os animais para a reprodução) e algumas irritações (da definição: grande afeição de uma a outra pessoa de sexo contrário) acabo me decidindo por levar em conta o que considera o Aurélio Buarque de Holanda Ferreira:

1. Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem. 2. Sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro, ou a uma coisa. 3. Inclinação ditada por laços de família. 4. Inclinação sexual forte por outra pessoa. 5. Afeição, amizade, simpatia. 6. O objeto do amor.”

Agora nas caixinhas de som, Mick Hucknall colabora na transpiração com You Make Me Feel Brand New e volto ao filme com o desejo de passar bem longe de qualquer tendência julgadora. 

Penso que Michael Haneke seja um homem bem pragmático. Parecendo não precisar/desejar provocar emoções nos expectadores, abriu mão de recursos como trilha sonora ou enfoque em cenas potencialmente comovedoras, pra retratar objetivamente o drama do casal.

Uma das melhores sacadas do filme, pra mim, foi fazer a inversão mais provável de condição de cuidador, que na regra competiria à mulher, para o Georges, que assumiu o papel de amoroso parceiro, amigo, enfermeiro e companheiro. Outra coisa que ressalto como fundamental é o papel de utilidade pública mesmo. Muito peculiar o trato do diretor com as minúcias sintomatológicas do AVC, as repercussões, os detalhes das limitações cotidianas com o avançar e ampliação do quadro clínico.

Como profissional de saúde, não consigo deixar de lado o olhar sobre os inúmeros desafios e dilemas da arte de cuidar. E ainda instigada pelas inúmeras definições da palavra amor, me permito concluir que sim, Georges amou Anne até o fim, foi ao seu limite físico, emocional e psicológico, vindo a decisão final, ao meu ver, como um aceno de entendimento ao que já solicitava sua companheira.

Tratar eticamente do desenlace final do filme, incluiria contaminações quase que inevitáveis, de cunho e percepções de fé, além de correr o risco de me colocar na condição, que não me compete, de julgadora. Então fecho por aqui. Amor, inevitavelmente um filme que tocou muito, pelas interpretações, em especial de Emmanuelle Riva, com aplausos concomitantes pra maquiagem convincente, pro desinteresse do autor de se utilizar de tantos recursos possíveis pra provocar emoções, que brotaram inevitavelmente quando ele conseguiu talvez o que mais quisesse: fazer a troca. Provocar profundamente o expectador para entrar nos personagens, sentir suas emoções e fraquezas, participar dos seus dilemas, das suas dores e das suas decisões.



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