segunda-feira, 30 de agosto de 2010
(V)idas
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
CLICHÊS: VIVEMOS SEM ELES?
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
CINZA A COR DO AMOR?
Na tragetória do filme, os encontros me chamaram a atenção: com os canibais, o velho e o ladrão. Canibalismo trazendo o retrato do limite humano de sociabilidade. Humanos comendo humanos, matando humanos, armazenando humanos como comida...
No encontro com o velho, a reflexão sobre a importância dada aos idosos (isso vale pra nossa realidade), naquele cenário de avaliação cotidiana, dos desafios pra sobreviver, me chama a atenção a perspectiva do olhar do menino, que desprovido da racionalidade adulta da programação de provimento, se desnuda de qualquer avaliação futura (poderia-se dizer imaturidade e falta de visão) e traz a tona (pra mim foi essa a intenção do autor) a reflexão sobre as possibilidade de os valores e a importância do ser humano, serem levados em consideração, naquele mundo.
Essa perspectiva se repete na cena do ladrão. O pai, já no seu limite, preocupado com o estado de saúde agravado, com a possibilidade de deixar o filho sozinho no mundo, se vendo com todo seu provimento roubado, ao reaver seus pertences, amedrontado e revoltado, não tem condições de perdoar o ladrão deixando-o sem nada (nu mesmo). O menino mais uma vez interfere e dá a oportunidade ao pai de experimentar uma visão singular, que aparentemente era única daquelas paisagens.
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Terceiro Café - A estrada
Próximo encontro:
Tema: Literatura
Livros: O amor do pequeno príncipe - cartas a uma desconhecida (Antoine de Saint-Exupéry)
Para Francisco (Cristiana Guerra)
Indicação: Anna Flávia
terça-feira, 10 de agosto de 2010
A solidão em todos nós
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Quando a maior obra é reconhecer o gênio no outro
“Honrar um pensador não é elogiá-lo nem interpretá-lo, mas discutir sua obra, mantendo-o vivo, e demonstrando em ato que ele desafia o tempo e mantém sua relevância.”
(Cornelius Castoriardis)
Em nosso primeiro encontro, comentamos como foi feliz a escolha de Cartas a um jovem poeta, já que se tratava da compilação de conselhos do já então famoso Rainer Maria Rilke para um aspirante a escritor.
Franz X. Kappus diz, em sua introdução a esta obra (lemos a publicada pela L&PM Pocket), que “quando fala alguém grandioso e único, os pequenos têm de se calar”. Porém, nós somos pequenas e pretensiosas, o que impulsionou o nascimento deste coletivo.
A proposta de visitarmos diferentes obras, discuti-las e expormos nossas inferências sobre elas em textos, animou a todas, mas suscitou (aqui falo por mim) uma preocupação: e como fazer nascer este texto?
O interessante neste livro – dentre outros aspectos mais importantes – foi a opção de publicar-se apenas as respostas de Rilke, o que nos proporciona a sensação de que o poeta se dirige diretamente a nós, agora.
Estas cartas datam do início do século XX, no entanto, nos trazem reflexões atemporais, mostrando a relevância citada por Castoriardis (embora se referisse mais especificamente a políticos e estadistas – aqui transporto para a arte), através dos tempo deste artista-pensador. Evidencia também sua maturidade artística e emocional.
Esta maturidade à qual me refiro, creio que pode ser exemplificada, principalmente, por este entendimento (1ª carta) de que a resposta para as dúvidas e inquietações deve ser encontrada dentro de nós mesmos. O pressuposto para o desenvolvimento artístico, e também humano, seria a busca pelo autoconhecimento. Para isto, faz-se necessário um mergulho dentro de nós, investigando nossas motivações, a origem de nossos desejos e o reconhecimento do que é realmente vital para nós. Destas descobertas, pode resultar, inclusive, a renúncia ao que antes nos parecia imprescindível para viver.
Rilke fala em alguns trechos de suas cartas sobre a importância da paciência para “tudo que não está resolvido”(4ª carta). E não é exatamente assim na vida? Está aí, mais uma vez, ressaltado o caráter mimético da arte. Afinal, assim como um pintor precisa se demorar ao estudar seu modelo para traduzi-lo em sua obra, precisamos nós também nos demorar sobre o outro, sobre o mundo e sobre nós mesmos para interpretar de forma realista a existência. Esta é uma tarefa que só se obtém, com êxito, pela paciência.
Outra condição necessária, destacada pelo poeta, para o fazer artístico – e, mais uma vez podemos estender para a vida – é a solidão.
Ele chama a solidão de não-entendimento. De fato, não é um tipo de solidão que sentimos quando determinados fatos ocorrem, ou quando nos deparamos com certas atitudes do outro que são para nós incompreensíveis?
Quando temos ideais e sentimentos diferentes dos que nos cercam, isto é solidão. Mas esta também é a chance de descobrirmos nossa singularidade e interpretar o mundo de forma única e criativa, e talvez até produtiva e transformadora.
Em sua sétima carta, Rilke lembra que estes elementos (paciência e solidão) são difíceis de se alcançar, mas que nem por isso deve-se abrir mão deles. Segundo ele, “devemos nos aferrar ao que é difícil”.
Dentre outras coisas, ele diz que o amor é bom porque é difícil. Ainda: que o amor é a preparação para tudo, que é preciso aprendê-lo e que os jovens não estão prontos para ele. Amar, continua, é uma oportunidade sublime para amadurecermos, pois exige entrega, doação ao outro. Porém, até aí, fala do amor como sentimento. Adiante, afirma que a “comunhão” deveria ser o último passo. Chega a ser por um lado divertida e por outro triste sua visão do porquê os jovens devem postergar a consumação deste amor:
“É aí que os jovens erram (...) gravemente (...) se atiram uns para os outros quando o amor vem, derramando-se da maneira como são, em todo seu desgoverno, na desordem, na confusão (...)
Então cada um se perde por causa do outro e perde o outro (...) troca-se a aproximação e a fuga de coisas quietas, (...) por um desespero infrutífero do qual nada pode resultar; nada mais do que um pouco de náusea, desapontamento e pobreza (...)”
Uau! Quem não reconhece um pouco disto em sua história? Mas afinal, por que devemos nos aferrar ao que é difícil? Ora, o que as facilidades nos ensinam além da comodidade, imaturidade e de nos tornar mimados? São justamente as coisas difíceis que nos proporcionam a chance de crescermos, evoluirmos! As dificuldades nos impulsionam/obrigam a sairmos do estado de inércia, nos acorda para a vida.
Nesta mesma carta, Rilke reproduz um soneto de Kappus. Sem querer ser injusta e leviana ao julgar o trabalho do jovem oficial(sequer estou habilitada para isso), não me pareceu grande coisa. Talvez me falte sensibilidade ou apuro para reconhecer seu valor, ou quem sabe, a tradução tenha lhe roubado a essência, o fato é que temos que reconhecer ter sido uma atitude sábia de sua parte publicar estes registros. Foi ele que permitiu que tivéssemos acesso aos valiosos pensamentos daquele artista (quase um manual para quem quer escrever) e sua lição de generosidade e humildade (afinal, mesmo sendo tão famoso e estando com sua saúde abalada, achou tempo, boa vontade e PACIÊNCIA para responder um desconhecido). Que essas constatações sejam um convite para conhecermos sua obra e deixar que ela nos inspire.
O mundo estava no rosto da amada -
e logo converteu-se em nada, em
mundo fora do alcance, mundo-além.
Por que não o bebi quando o encontrei
no rosto amado, um mundo à mão, ali,
aroma em minha boca, eu só seu rei?
Ah, eu bebi. Com que sede eu bebi.
Mas eu também estava pleno de
mundo e, bebendo, eu mesmo transbordei.
CURIOSIDADES:
A tradução desta obra foi feita por Pedro Sussekind, mestre e doutor em filosofia, pesquisador do Departamento de Literatura Comparada da Freie Universität, em Berlim. Além de trabalhos de Rilke, traduziu também obras de diversos autores de língua alemã, como Goethe, Nietzsche e Schopenhauer. Rilke foi traduzido, também, por Manuel Bandeira e Cecília Meireles.
O poeta foi amigo e secretário de Auguste Rodin, com quem aprendeu algumas lições sobre apreciação da arte, o que influenciou seu trabalho.
MÁXIMAS A SE CONSIDERAR:
"Quero viver como se o meu tempo fosse ilimitado. Quero me recolher, me retirar das ocupações efêmeras. Mas ouço vozes, vozes benevolentes, passos que se aproximam e minhas portas se abrem..."
“... a maioria dos acontecimentos é indizível.”
“Procure o fundo das coisas; ali a ironia nunca chega.”
“... quanto aos assuntos mais profundos e mais importantes, estamos indizivelmente sozinhos...”
Leu nossos textos? Nos dê o prazer de ler seu comentário. Citando uma última vez o autor de Carta a um jovem poeta:
“... é importante e uma experiência inteiramente nova encontrar um trabalho próprio escrito com a letra de outra pessoa.” ;)
De mãos dadas com a solidão
domingo, 8 de agosto de 2010
"Canta que a vida é um dia..."
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
A inspiração de cada um
Cartas que convidam à leitura das obras
(Im) Paciência. Em alguns momentos é o que parece ocorrer com Rilke ao dar os retornos ao senhor Kappus, entretanto sempre com lúcida polidez, de dar inveja aos espíritos menos evoluídos como o meu.
Pra quem não conhece a obra de Rilke (como eu), acho que é um bom início começar com essas cartas. Dá pra se instrumentalizar um pouco sobre o “ser humano” Rilke. Em muitas passagens, traduções de pensamentos, maneiras de enxergar o mundo. Muita atenção e cuidado com os conselhos, sempre atenciosos e ricos.
Enfatizo o cuidado do mesmo com as críticas, do que o mesmo era um ferrenho opositor: “não há nada que toque menos uma obra de arte do que palavras de crítica: elas não passam de mal-entendidos mais ou menos afortunados, ajunta na terceira carta: “leia o mínimo possível textos críticos e estéticos – ou são considerações parciais, petrificadas ... ou são hábeis jogos de palavras, nos quais hoje uma visão sai vitoriosa, amanhã predomina a visão contrária”.
Rilke, na tentativa de não criticar, faz uma boa fala já na primeira carta, para que o jovem Kappus procure, antes de tudo, consigo próprio o que procurava saber dele (Rilke): “ Não há meio pior de atrapalhar o desenvolvimento do que olhar para fora e esperar que venha de fora uma resposta para questões que apenas seu sentimento íntimo talvez possa responder, na hora mais tranqüila”. No meu entendimento, a partir da perspectiva dessa resposta, ele segue as demais cartas. Sempre enfatizando e aconselhando o jovem a valorizar tudo como inspiração. A saber ser, ele próprio, seu auto-termômetro. É como se pretendesse capacitá-lo para ser seu próprio crítico.
Ele enfatiza isso de maneira muito feliz na segunda carta, quando dá sua opinião acerca de conselhos: “...no fundo, e justamente quanto aos assuntos mais profundos e mais importantes, estamos indizivelmente sozinhos, de modo que muita coisa precisa acontecer para que um de nós seja capaz de aconselhar ou mesmo ajudar o outro, muitos êxitos são necessários, toda uma constelação de acontecimentos tem de se alinhar para que isso dê certo alguma vez.”
Por fim grifo a preocupação do poeta em tentar acender a percepção de Kappus, acerca da importância na habilidade de saber apreciar, lidar e usufruir da tristeza, da solidão, da paciência e do difícil. Na verdade, são temas muito recorrentes nas cartas (são cinco anos de correspondências – 1903 a 1908).
“... ame a solidão e suporte a dor que ela lhe causa com belos lamentos.” (4ª carta)
“... é necessário apenas o seguinte: solidão, uma grande solidão interior. Entrar em si mesmo e não encontrar ninguém durante horas, é preciso conseguir isso. Ser solitário como se era quando criança...” (6ª carta)
“É bom ser solitário, pois a solidão é difícil; o fato de uma coisa ser difícil tem de ser mais um motivo para fazê-la” (7ª carta)
“... é tão importante estar sozinho e atento quando se está triste: ... o instante aparentemente parado... está bem mais próximo da vida do que aquele outro ponto, ruidoso e acidental..” (8ª carta)
“Alegre-se com seu crescimento, para o qual não pode levar ninguém junto, e seja bondoso com aqueles que ficam para trás, seja seguro e tranqüilo diante deles, sem perturbá-los com suas dúvidas nem assustá-los com uma confiança ou alegria que eles não poderiam compreender” (4ª carta)
“... precisamos nos aferrar ao que é difícil; tudo o que vive se aferra ao difícil” (7ª carta)
“ Sabemos muito pouco, mas que temos de nos aferrar ao difícil é uma certeza que não nos abandonará.” (7ª carta)
“... o amor é difícil. Ter amor, de uma pessoa por outra, talvez seja a coisa mais difícil que nos foi dada, a mais extrema, a derradeira prova e provação, o trabalho para o qual qualquer outro trabalho é apenas uma preparação” (7ª carta)
“...avalie se essas grandes tristezas não atravessaram o seu íntimo, se muita coisa no senhor não se transformou, se algum lugar, algum ponto do seu ser não se modificou enquanto o senhor estava triste.” (8ª carta)
“... quase todas as nossas tristezas são momentos de tensão, que sentimos como uma paralisia porque não ouvimos ecoar a vida dos nossos sentimentos que se tornaram estranhos para nós.” (8ª carta)
domingo, 1 de agosto de 2010
Segundo Café - Cartas a um jovem Poeta
Participaram do encontro: Ana, Glenda, Lila, Manu e Bá. Discutiram sobre o livro indicado por Glenda, na primeira reunião: Cartas a um jovem poeta, de Rilke.
As produtivas discussões levaram a consensos e dissensos que fomentaram resultados mais ou menos consensuados.
As impressões individuais serão elencadas e postadas na sequência.
Próximo Encontro:
Tema: Cinema
Filme: A estrada. Um drama de 112 minutos, baseado no romance de Cormac McCarthy, vencedor do Pulitzer de 2007. Dirigido por John Hillcoat e tem como elenco: Viggo Mortensen, Robert Duvall, Charlize Theron, Kodi Smit-McPhee, Garret Dillahunt, Guy Pearce.
Indicação: Manuela Duque